É capaz que você já tenha ouvido (ou mais provavelmente, lido) este termo nos círculos de discussão de indumentária e estilo masculinos. E é provável que ficou sem entender o quê raios significava, e lendo na Wikipedia ficou ainda mais confuso pensando “o quê diabos isso tem a ver com roupa mesmo?”. Então vamos começar definindo a palavra.
O quê é sprezzattura?
O primeiro registro que temos da palavra vem do O Livro do Cortesão, de Baldassare Castiglione, publicado em 1528. O livro em questão é um guia de como ser um bom cortesão e sobreviver no jogo de aparências das cortes italianas da Renascença, e neste o autor define sprezzattura como:
“Uma certa indiferença, para ocultar todo artifício e fazer o quê quer que você faz ou diz aparentar sem esforço e como se você nem tivesse pensado no assunto”.
Em outras palavras: sprezzattura é quando você faz algo difícil como se fosse fácil. Pense num artista tocando música sem nem olhar pro instrumento, ou num jogador de basquete fazendo uma enterrada de costas só porque deu vontade. E no caso, é quando alguém se veste de uma maneira bem interessante como se só estivesse vestindo jeans e camiseta, como se isso fosse o normal pra ele.
Mas agora você pergunta “Tá, mas por quê eu deveria me importar?”.
Vantagens
Quando você faz algo complexo, sempre corre o risco de parecer artificial, de parecer falso, e por consequência causar uma sensação ruim nos outros que te vêem, o quê diminui qualquer vantagem social que sua imagem poderia te trazer. Você transparece um ar nervoso e inseguro — características que não ajudam ninguém.
Mas quando você faz isso com naturalidade, o oposto acontece: o impacto da sua imagem é ainda mais forte, não parece que você está vestido de forma elegante, parece que você simplesmente é elegante. Além disso, você ganha um ar sobrehumano, como se fosse capaz de fazer ainda mais se decidisse se esforçar de verdade.
Ok, tudo isso parece legal, mas como você coloca em prática?
Sprezzattura na prática
É mais simples do quê parece: o truque é abraçar as imperfeições e naturalidade. Por exemplo:
Você decide usar uma gravata borboleta. Ao invés de cometer o erro de comprar uma de nó pronto, que absolutamente simétrica e perfeita (e portanto artificial), você compra uma legítima e faz o nó você mesmo. E ele fica um pouquinho torto. Ótimo — perfeito em sua imperfeição. Seu nó tem um toque humano e portanto natural.
Ou digamos que você pegou um lenço pra usar no bolso do casaco. Ao invés de fazer uma dobra complexa e geométrica, você só dobra ele num quadrado pequeno e deixa um pouquinho pra fora. Ou até, coloca o lenço amassado dentro do bolso. Você (teoricamente) nem passou tempo pensando no assunto, só fez e pronto.
Ou ainda, você decide usar uma calça de linho. Linho sendo linho, sua calça fica amassada. Isso dá a ela um ar natural e faz parecer que você não está tão preocupado assim — não está fazendo tanto esforço pra impressionar. E isso, por si só, acaba impressionando.
Mas então é só me vestir sem me esforçar?
Não exatamente. Lembre-se: é fazer algo incrível sem esforço aparente. Ninguém acha impressionante o cara que tenta dar um mergulho e cai de barriga, não importa se ele fez isso sem nenhum aparente esforço. Mas o outro que pula de costas e faz um mergulho perfeito — aí sim é impressionante.
Então faça um esforço, mas não esfregue na cara dos outros. Isso vai impressionar mais que tudo.