Category: Filosofia do vestir

  • Estilo, por Charles Bukowski

    Estilo, por Charles Bukowski

    Estilo é a resposta a tudo,
    Uma maneira nova de abordar algo chato ou perigoso,
    Fazer algo chato com estilo é preferível a fazer algo perigoso sem,
    Fazer algo perigoso com estilo é o quê eu chamo de arte.

    Touradas podem ser uma arte,
    Boxe pode ser uma arte,
    Amar pode ser uma arte,
    Abrir uma lata de sardinhas pode ser uma arte.

    Não são muitos que tem estilo.
    Não são muitos que podem sustentar estilo.
    Eu já vi cachorros com mais estilo que homens,
    apesar que não muitos cachorros tem estilo.
    Gatos o tem em abundância.

    Quando Hemingway espalhou seus miolos na parede com uma espingarda,
    aquilo foi estilo.
    Ou às vezes as pessoas te dão estilo
    Joana D’Arc tinha estilo,
    João Batista,
    Cristo,
    Sócrates,
    César,
    García Lorca.

    Eu conheci homens na cadeia com estilo.
    Eu conheci mais homens na cadeia com estilo que fora dela.
    Estilo é a diferença, uma maneira de fazer, uma maneira de ser feito.
    Seis garças de pé quietas numa lagoa,
    ou você saindo do banheiro, nua, sem me ver.

  • Forma segue a função… Às vezes

    Forma segue a função… Às vezes

    Roupas masculinas tem a fama ─ em grande parte devida ─ de serem funcionais. “Práticas”. Como evidências, geralmente são apresentados fatos como a maioria das nossas roupas descenderem de uniformes militares ou roupas de trabalho, e que suas formas surgiram de acordo com as necessidades. Afinal, homens tendem a priorizar conforto e qualidade na hora de comprar em comparação com mulheres. Não usamos vestidos que ficam restringindo nossos movimentos, ou sapatos desconfortáveis mas bonitos.

    Mas aí você vê uma gravata. Ou um lenço de bolso. Ou uma corrente nos passantes das calças.

    Nada disso tem função alguma, caramba.

    Forma segue a função… Exceto quando não. Exceto quando você decide usar algo simplesmente porque é legal e você gosta. Ou porque é a convenção social na ocasião.

    Pessoalmente, eu curto muito gravatas. Não tem nenhuma utilidade prática, mas eu acho extremamente legal uma gravata com o nó bem feito. Então essa gravata cumpre uma função, porque como disse antes, estética é importante.

    Muitas vezes, a forma tem uma função toda própria. É a base do trabalho de consultoria de imagem: sua imagem comunicar algo é uma função. Você passar uma boa impressão, ficar mais atraente, são coisas de valor funcional. E seu conforto psicológico também é.

    Pense na funcionalidade das suas roupas, mas não fique preso ao óbvio.

  • Arriscando quando você é jovem

    Arriscando quando você é jovem

    Outro dia, aconselhando um camarada mais novo ─ 18 anos pra ser exato ─ ele contou que shorts cargo eram basicamente tudo que ele usava quando não fazia frio. Mas depois de ler por aí (e ouvir vários comentários negativos na vida real), percebeu que estes são considerados cafonas e que muita gente é da opinião de que homens nunca deveriam usá-los.

    Eu expliquei então pra ele que certas roupas carregam conotações sociais bem fortes. E querendo ou não, na maior pate do mundo as pessoas vão ter uma reação negativa a shorts ─ duplamente se forem cargo. É inconsciente e automático, como grande parte das nossas reações a respeito da imagem alheia (ou própria). A impressão geral é que dá uma infantilizada no visual do sujeito, e ele fica com a imagem de quem não soube se tornar adulto. No caso de alguém mais novo, parece só que ele não quer crescer mesmo.

    Aí ele perguntou, “Eu devo mudar meu guarda-roupa?“. Ao que respondi: “Você tem 18 anos, é uma boa hora pra começar a experimentar com a sua imagem“.

    E isso me deixou pensando na grande vantagem que temos quando jovens: podemos arriscar bem mais. O resto do mundo não vai te julgar tanto por tentar um monte de coisas diferentes; fica subentendido que você ainda está se descobrindo, achando seu caminho e seu próprio estilo de fazer as coisas ─ se vestir entre elas.

    Isso não é uma desculpa pra não arriscar se você for mais velho, claro. “A sorte favorece os ousados“, já diziam os romanos. Mas se você é mais jovem, tem uma desculpa ótima experimentar mais ainda.

    Sim, você vai errar. Isso é inevitável. Mas se você errar mais rápido, vai acertar mais rápido também. Então arrisque mais.

  • Falando errado

    Falando errado

    Enquanto eu considero que as “regras” da indumentária masculina devem ser encaradas mais como guias, também faço questão de enfatizar que devemos conhecer estas regras antes de poder quebrá-las. Mas qual é a razão prática disso?

    Pense comigo: se sua imagem é uma forma de comunicação, quando você se veste todo “errado” é o equivalente então a falar tudo errado, né? Em outras palavras, é a versão indumentária de falar pobrema.

    E qual o problema disso?

    O problema é que quem vê (ou escuta) inconscientemente fica com uma impressão ruim de você. Mesmo que não seja verdade. E eu já conheci gente esperta que falava algumas coisas errado (assim como gente com o vocabulário excessivamente rebuscado que era bem besta). Mas não interessa: a impressão ruim fica, e o tratamento acaba sendo também menos que legal.

    Alguns podem tentar argumentar ainda que não estão falando errado, só estão falando em outra língua. Mas se você não fala a língua da pessoa com quem está tentando se comunicar, ninguém vai te entender.

    Por isso que é bom seguir as ditas “regras”, pelo menos no começo. Claro que ninguém é perfeito, mas isso não é desculpa pra ficar como está, né?

  • Maestria

    Maestria

    Há muitos anos atrás, eu escutei um camarada falando sobre a ideia ilusória que nós temos sobre se tornar um “mestre”. Quando começamos a aprender algo, nós inconscientemente assumimos que a jornada tem um fim.

    Isso acaba acontecendo com todo cara que decide melhorar a própria imagem também. Você cria a expectativa de que um dia vai ter o guarda-roupa ideal e não vai mais precisar mudar nada. Depois de anos estudando e praticando, você finalmente é o sábio da montanha e entende tudo que tem pra se entender de roupas.

    …é claro que isto nunca vai ser verdade. Se você conferir qualquer sujeito bem vestido (como o senhor David Niven), vai ver que de um ano pro outro ele mudou algo aqui ou ali no seu guarda-roupa. Se conversar com ele, vai descobrir que ele enxerga algumas coisas que precisa melhorar (e talvez até tenha vergonha de algumas coisas que vestia recentemente).

    Sem falar que seu corpo vai mudar. Seja por comer demais, seja por se exercitar, ou seja pelo que for, você vai ter um corpo diferente daqui alguns anos, e ou suas roupas vão refletir isso, ou você vai ficar mal vestido.

    Pra completar, sua vida muda também. Quando você era um adolescente que ia na Galeria do Rock todo fim de semana, era normal que seu guarda-roupa fosse todo preto. Mas agora que você terminou a faculdade e tá buscando clientes pra sua startup, é melhor ter algo além de jeans preto e camiseta do Marduk.

    Então é bom termos a humildade do Confúcio:

    Aos 15 anos meu coração concentrou-se com rigor nos estudos, aos 30 anos pude manter-me em pé, aos 40 abandonaram-me as dúvidas, aos 50 anos conheci o Decreto dos Céu. Aos 60 anos, meus ouvidos abriram-se docemente para a Verdade, aos 70 anos pude seguir os desejos do meu coração sem transgredir nunca com a regra.

    Confúcio, Analectos de Confúcio

    A jornada nunca acaba.