Category: Filosofia do vestir

  • Ajuda ou atrapalha?

    Ajuda ou atrapalha?

    Algo que me perguntam com frequência é “posso…?“. Seja “posso usar X com Y?”, ou “posso usar Z com a minha altura/meu corpo?”, ou “posso usar A no evento B?”, eu escuto essa pergunta com frequência. E eu entendo o lado de quem tá perguntando, mas vou dizer que é a pergunta errada de fazer.

    No fundo, todos nós sabemos que a resposta à pergunta “posso…?” é quase sempre “sim!“. Não vai surgir uma polícia da moda e te prender por conta das suas roupas. Tirando algo extremo, como sair de sunga no meio da cidade, não tem muita coisa que você não pode no quê diz respeito à se vestir (e mesmo neste exemplo, existe o Carnaval…).

    Por essas que sempre aconselho todo mundo a deixar de pensar em termos de “posso ou não”. Mas se meu conselho fosse “se veste do jeito que quiser, vai dar tudo certo cara!”, isso também não ajudaria — nós dois sabemos que isso não é verdade. Vai numa entrevista de emprego numa calça de moletom velha, camiseta regata e chinelo, e depois me conta como foi.

    Então, só porque você pode, não significa que você deve — consequências existem. Isso tá bem claro. Então, o quê ofereço aqui uma ideia muito mais útil que o “posso ou não”:

    Ajuda ou atrapalha?

    Quando você pensa se ajuda ou atrapalha, você chega no cerne da questão: suas roupas e sua imagem são um meio para um fim. São ferramentas que você usa para atingir certos objetivos — objetivos sociais, profissionais, românticos ou pessoais.

    Isso é uma consideração muito importante, porque não existe nenhuma roupa que ajuda em toda situação. Por mais que eu adore alfaiataria, não vai funcionar na praia, ou jogando futebol. Por mais que você se sinta confortável de shorts, num casamento é uma ideia péssima e falta de respeito com todos os presentes. E por aí vai.

    E fazer a pergunta “ajuda ou atrapalha?” também te leva a questionar: Qual é o seu objetivo? O quê espera de bom nesse contexto? O quê quer evitar de ruim?

    Você pode muita coisa. Mas nem todas vão te ajudar.

  • Quem te compra?

    Quem te compra?

    Muita gente hoje em dia fala de branding pessoal, ou marketing pessoal. Falam tanto disso que estes se tornaram chavões pros quais é fácil torcer o nariz (veja também: sinergia, proatividade, e o meu “favorito”, valor agregado). Um monte de gente usa palavras como estas pra parecer importante, ou entendido do assunto, e aí muitos de nós acabam pegando asco dos termos.

    Porém…

    Essas expressões — marketing ou branding pessoal — apontam pra uma maneira interessante de enxergar sua imagem: como uma forma de marketing. E minha definição favorita de marketing é a do livro The 1-Page Marketing Plan:

    Marketing é a estratégia que você usa para fazer seu mercado alvo ideal te conhecer, gostar de você e confiar em você o bastante para ser um cliente.

    Allan Dib

    Todo dia, quando você lida com os outros, você está se vendendo. Você está convencendo (ou ao menos tentando) as pessoas a sua volta a trocar com você o bem mais precioso delas: tempo de vida. Uma vez gasto, este nunca mais volta. Todo o resto dá pra conseguir mais, mas este segundo que acabou de passar… Ele se foi pra sempre.

    Então, enxergando desta forma, o quê podemos aprender de marketing para melhorar nossa imagem? Uma das lições essenciais de marketing é que: o importante é o quê o cliente gosta e quer ou precisa, não o quê você gosta e quer ou precisa.

    Num exemplo prático, me diga quem tem mais chances de atrair alguém romanticamente:

    1. Um sujeito que na hora de se vestir escolhe o quê ele acha atraente.
    2. Um sujeito que na hora de se vestir escolhe o quê outros acham atraente.

    A resposta é obviamente a opção 2.

    É claro, isto não significa ignorar seu próprio gosto. O melhor marketeiro do mundo não consegue vender um produto ou serviço no qual não acredita. Você tem que vender pra si primeiro pra depois vender pros outros. Mas não podemos esquecer que quem vai mais nos ver são estas outras pessoas, então isso tem um peso grande.

    E instintivamente, sabemos disto. Todo mundo já se arrumou pruma entrevista de emprego em algum momento, e quando você fez isto, estava buscando impressionar quem podia te contratar.
    Assim como todo mundo já se arrumou pra sair de noite pro bar/balada/festa, pensando em impressionar prospectos românticos/sexuais. Etc.

    Então pense: Quem são os clientes que você quer atrair? O quê eles querem comprar? Como eles se comunicam? Seu produto condiz com isto?

    Isso é marketing inteligente: é empatia prática. Provendo do quê o cliente quer, você consegue o quê você quer em troca. E assim, todo mundo sai ganhando.

  • Metamorfose

    Metamorfose

    Digamos que você tem uma habilidade mágica. Você é uma criatura mítica sem forma definida, que toda manhã pode escolher a própria aparência. Você só pode fazer isto uma vez por dia, porém. Neste caso, você acha que no dia a dia escolheria:

    • a) Parecer pros outros imponente, competente e atraente (e pra si também), ou;
    • b) Parecer insignificante, inepto e repelente?

    A não ser que queira fazer alguma espionagem e passar despercebido, você provavelmente vai sempre escolher a alternativa “a”. Ela é claramente melhor.

    Bem, acho que é óbvio onde estou chegando com a história, mas só pra ficar claro: você já tem esta habilidade. Num nível um pouco menos poderoso talvez (mas mais do quê muitas vezes pensamos), mas tem sim. Essa habilidade mágica é se vestir.

    Então, por que não escolher uma forma favorável todo dia?

  • Sua imagem contra suas palavras

    Sua imagem contra suas palavras

    Vou relatar aqui uma história famosa pra ilustrar como sua imagem pode afetar, de forma positiva ou negativa, a percepção que os outros têm de você, e do quê você diz também.

    Em 26 de setembro de 1960, ocorreu um evento histórico na política: o primeiro debate televisionado. Os então candidatos à presidência dos EUA, John F. Kennedy e Richard Nixon, se encontraram em um estúdio para debater suas propostas políticas, com milhões de americanos assistindo, e com uma parcela menor escutando pelo rádio.

    O contraste entre os dois candidatos era grande: Kennedy tinha uma imagem jovem e saudável — o quê, ironicamente, não condizia com a realidade; ele escondia sérios problemas de saúde. Já Nixon, que tinha saído do hospital há pouco tempo, parecia pálido e suava profusamente.

    Segundo conta a história, aqueles que assistiram ao debate acreditaram que Kennedy tinha vencido claramente, enquanto aqueles que escutaram pelo rádio deram a vantagem a Nixon. Como 88% das casas americanas já tinham TV a esta altura, considera-se que este debate definiu as eleições e ganhou a presidência para Kennedy.

    Em debates subsequentes, Nixon se saiu bem melhor, tendo se recuperado e adotando uma dieta mais saudável. Mas o dano já tinha sido feito, e a primeira (má) impressão que o o candidato causou no debate inicial não foi superada até o dia das eleições.

    Após a vitória, o recém-eleito Kennedy disse “foi a TV mais que qualquer coisa que virou o jogo”.

    Esta história ilustra dois pilares da consultoria de imagem:

    1. Sua aparência importa mais do que o conteúdo da sua fala.
    2. Primeiras impressões são extremamente difíceis de superar.

    Se a imagem de alguém pode ganhar uma eleição presidencial, sem dúvida pode te ajudar no dia a dia, não?

  • Não existe fora de moda

    Não existe fora de moda

    Muitos homens às vezes se preocupam em usar alguma coisa ou outra por medo de ser “ultrapassado” ou “fora de moda”. É um medo comum justamente entre os homens que já admitiram que sua imagem é importante, mas que ainda não a dominam completamente.

    Isso nos leva a algo que aprendi na faculdade. Na época, participei de uma pesquisa de iniciação científica com uma professora que admiro muito. Em uma das conversas que tivemos, ela disse o seguinte: “Não existe mais fora de moda”.

    Pensei sobre o assunto mais tarde, e a explicação dela — mesmo que você use algo antigo, hoje em dia está “retrô” ou “vintage” — e concordei com a afirmação. A ascensão de brechós por toda parte é uma clara evidência disto.

    Hoje em dia, somos livres para vestir quase qualquer coisa, ao menos fora do expediente (e pra alguns até durante). Nesta liberdade, muitos olham pro passado e encontram um estilo que os atrai mais, seja de alguma subcultura, ou seja apenas a modelagem, peças, combinações e detalhes de uma época.

    Aliado ao fato de que ninguém mais serve de polícia da moda; nem mesmo os profissionais da área; podemos dizer que a tão falada “ditadura da moda” não existe mais. Pense, quando foi a última vez que viu alguém apontando que o quê outra pessoa vestia era da última estação?

    Portanto, uma sugestão: se gostou de algo, não se pergunte se está na moda ou não. Tem perguntas muito mais interessantes pra se fazer.