Category: Minimalismo

  • Reinterpretando

    Reinterpretando

    Eu tava outro dia escutando uma entrevista com alguns caras que trabalham curando e revendendo artigos vintage. Em determinado momento da entrevista, um deles falou um negócio que achei bem interessante e legal de compartilhar com os leitores aqui…

    Ele começou a descrever um modelo de sweater que ficou extremamente popular nos anos 90, por conta de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, que vestiu essa roupa na gravação do show acústico da MTV. Mas a cor específica que ele usava não era tão fácil de encontrar, então virou um achado pra quem tinha. Pro pessoal da época, essa peça ficou marcada como parte integral da estética grunge.

    Porém, o mesmo sweater, como o camarada da entrevista explicou, era também usado pelo “Ol’ Blue Eyes”, Frank Sinatra, na versão original do filme Onze Homens e Um Segredo. Usado obviamente de maneira bem diferente, e por consequência comunicava toda uma outra estética.

    E o ponto que o sujeito da entrevista estava fazendo é que, como hoje em dia não existe mais fora de moda, você pode constantemente reinterpretar essas peças mais antigas e transformá-las em algo novo. Dependendo de como você usa, de como cai no seu corpo, com o quê você decide combinar, pode ser uma referência a diversas coisas diferentes e pertencer a diferentes estilos.

    Pense num simples Converse All Star, por exemplo. Combinando com jeans rasgado, camiseta e jaqueta de couro, é um tênis punk. Usando com calças chino, polo e sweater, é um calçado preppy.

    Quando quiser algo diferente, lembre-se que temos todo um passado pra explorar, revirar, e reinterpretar. Opções não faltam.

  • Feito pra usar

    Feito pra usar

    Uma discussão sobre sapatos outro dia levantou esse ponto: você fica com dó de usar suas roupas legais?

    É algo que acontece com muita gente, especialmente quem é mais perfeccionista. Aquele par de sapatos favorito que fica só guardado na sapateira, aquela jaqueta que quase nunca sai do armário por medo de acontecer alguma coisa, ou aquela camisa pra “ocasiões especiais” que estranhamente nunca acontecem.

    Mas aí você faz o quê no lugar? Usa roupas que não gosta tanto. Se veste “mais ou menos”.

    E se ao invés de ter suas “roupas legais” e suas “roupas mais ou menos”, você só tiver as “legais”?

    Mas isso vai ficar caro!“, você diz. Bem, não se você minimizar seu guarda-roupa.
    Comprando menos, você pode gastar seu dinheiro apenas em roupas que gosta e usa. Então ao invés de ter 1 jaqueta “legal” e outras 7 “mais ou menos”, você pode ter 3 jaquetas realmente boas. Cada uma sai mais caro, sem dúvida, mas você vai ter 3 opções que realmente gosta e usa sempre, ao invés de 1 legal que sempre tem medo de usar e outras 7 frustrantes que são as que acaba realmente vestindo.

    Além do mais, se você desapegar um pouco da perfeição, vai notar que um arranhão, um fio puxado, ou outro defeito pequeno não arruína sua roupa

  • Loos: Em louvor ao costume

    Loos: Em louvor ao costume

    Eu só tenho elogios para minhas roupas. Elas são na verdade as vestes humanas mais antigas. Os materiais são os mesmos da capa que Odin, o mítico líder Nórdico da ‘”caçada selvagem” [,] vestiu… É a indumentária original do homem… [Elas] podem, independente da era e área do globo, cobrir a nudez do indigente sem acrescentar uma nota estrangeira ao tempo ou ao panorama… Elas sempre estiveram conosco… É a indumentária daqueles ricos em espírito. É a indumentária do autossuficiente. É o traje das pessoas cuja individualidade é tão forte que ele não consegue se forçar a se expressar com a ajuda de cores espalhafatosas, plumas ou modos elaborados de vestir. Ai do pintor expressando sua individualidade com um casaco de cetim, pois o artista nele se resignou em desespero.

    Adolf Loos, pai da arquitetura modernista e campeão do costume sob medida

    Estava conversando outro dia com um amigo meu, e lembrei dessa citação que li no livro The Suit: Form, Function and Style¹, então pensei que seria interessante compartilhar aqui com você.

    Pra quem não conhece, Adolf Loos foi um arquiteto de opiniões controversas (e uma vida bem conturbada também), mas muito influente em suas ideias sobre design, que priorizavam simplicidade, elegância e atemporalidade, ao invés de ornamentação exagerada e modismos.

    Nada mais lógico que ele adorar roupas de alfaiataria, né?

    E é interessante comparar a alfaiataria com o trabalho de Loos. Enquanto alguns podem pensar que é algo sem expressão individual ou completamente desprovido de ornamentação, a verdade é que ambos existem ─ até bastante em muitos casos. A diferença é que não é algo exagerado e espalhafatoso.

    O interior da Villa Müller, é um ótimo exemplo: austero e funcional por fora, mas com detalhes belos e sutis no interior. É como uma jaqueta de alfaiataria com um forro decorado. O princípio é o mesmo: complexidade não deve ser usada como desculpa para esconder falhas fundamentais.

    É uma boa lição pra se levar: evitar complexidade desnecessária, até ocultar o quê der muitas vezes. Como um origami que esconde suas dobras mais complicadas por dentro.

    ¹ Eu não ganho nada se você comprar o livro por esse link ou qualquer outro. Mas é um livro bem legal., então se tiver afim, manda ver.

  • Limpeza do guarda-roupa

    Limpeza do guarda-roupa

    Estava falando semana passada sobre roupa demais gerar ruído e como minimizar ajuda a resolver esta questão, e já falei outras vezes sobre desapegar e fazer uma limpeza no guarda-roupa. Mas a vida sendo corrida pra todo mundo, a verdade é que tendemos a não lembrar de fazer isso, e quando você percebe já tem roupa de 4 anos guardada que você nunca usa (ou usou só 1 vez).

    Então vou compartilhar uma prática que mantenho já há um bom tempo: A limpeza anual do guarda-roupa.

    A ideia é ridiculamente simples: você anota na sua agenda ou calendário, o quê for mais prático, pra 1 vez por ano parar no fim de semana e limpar seu guarda-roupa. Aí é só seguir estes simples passos:

    1. Defina 1 dia e leve bem a sério isso. Calendários digitais funcionam bem demais aqui. Se você usar algo como Google Agenda, você pode anotar pro meio do ano por exemplo (primeiro fim de semana de junho é ótimo pra isso), e quando chegar a data vai receber a notificação no celular.
    2. Esvazie seu guarda-roupa por completo. Sim, a coisa toda. Se tiver uma sapateira, ou outros lugares onde guarda roupas e acessórios, faça o mesmo. Você pode colocar suas roupas em cima da cama se o espaço der, ou usar os sofás da sala, ou onde der. Quanto mais espaço tiver pra enxergar as roupas, mais rápido vai ser.
    3. Comece a filtrar suas roupas sem pensar muito. Isso é crucial: siga sua primeira impressão. Se você parar pra pensar, vai começar a arranjar desculpas pra guardar aquela camisa que não te serve mais, mas você ganhou de tal pessoa e fica com dó de se livrar, etc. Faça isso bem rápido então, pra não dar tempo pro seu cérebro arranjar essas desculpas pra manter coisas que não tem mais lugar na sua vida. Separe as roupas em 4 pilhas:
      • Roupas que você gosta e te servem bem. Aqui vem o quê você realmente usa e se sente bem usando.
      • Roupas que talvez dê pra usar. Aqui você colocar roupas que precisam de um ajuste, ou só não estão funcionando atualmente porque o resto do seu guarda-roupa está muito em desacordo.
      • Roupas pra doação/venda. Aquilo que não cabe mais na sua vida, mas está em bom estado. Doe pra algum amigo, leve prum brechó, venda online, etc. Mas importante: não devolva estas roupas pro seu guarda-roupa. Elas nunca mais voltam lá. Você já deixa elas separadas pra saírem da sua casa o mais rápido possível.
      • Descarte. Roupas que estão em mau estado e não vai servir pra ninguém mesmo. Coloque pra reciclar se tiver coleta seletiva onde mora.
    4. Na segunda pilha, a do talvez, se pergunte: “Eu compraria isso de novo hoje em dia?” Se a resposta for não, a roupa vai pra doação/venda. Se a resposta for sim, faça os ajustes necessários ou adaptações no resto do seu guarda-roupa para essa peça se tornar usável.
    5. Liste qualquer lacuna que notou que tem no seu guarda-roupa para preencher. Percebeu que tá realmente fazendo falta um casaco de veludo? Anote pra comprar um. Mas evite comprar mais do quê está se livrando. A ideia é minimizar o guarda-roupa.
    6. E por último, mas extremamente importante: marque no calendário para fazer isso de novo daqui 1 ano (ou semestre, se preferir, ou até na próxima troca de estação).

    Pronto. Aproveite seu guarda-roupa mais simples e prático, e economize tempo se vestindo toda manhã.

    ¹ Isso serve muito bem também pra outras coisas, como papelada de trabalho, arquivos no computador, ou até contatos no telefone.

  • Ruído

    Ruído

    Conversando com uns amigos uns tempos atrás, um deles estava lamentando da dificuldade que tem de se vestir. O guarda-roupa dele é cheio de camisas de flanela, mas a verdade é que ele não gosta muito da maior parte que tá lá, então na hora de se vestir elas acabam só ficando no caminho. E aí na hora de comprar roupas novas é mais complicado também, porque ele não sabe por onde começar e nem consegue enxergar o quê ele tem no armário direito pra conseguir combinar. No fim das contas acaba comprando mais camisas parecidas com as que já tem.

    Isso é uma armadilha muito fácil de cairmos. Conforme passa o tempo, você ganha roupas aqui ou ali, ou faz uma compra sem pensar, e de repente o guarda-roupa tá lotado de coisa que você não usa e fica gerando esse “ruído“, te impedindo de entender com clareza.

    O quê sugeri pra foi fazer o quê faço: minimizar tudo. Contei pra ele que só tenho 8 camisas atualmente, e só vou mandar fazer outra quando uma delas não estiver mais me vestindo bem mesmo. Eu tenho um número contato de cabides para camisas, outro para calças, e outro para casacos. Desse jeito, uma peça só entra quando outra sai (e também deixo bem claro pra todo mundo que não é pra comprar roupas pra mim).

    Quando você tem menos roupas, você acaba mantendo só aquilo que gosta de verdade. É uma das principais vantagens do minimalismo.