Category: Minimalismo

  • Wabi-sabi

    Wabi-sabi

    Apesar de eu pregar o desapego, não sou pró fast fashion e roupas descartáveis. Só falo que, quando a roupa já deu o quê tinha que dar, melhor aposentar que ficar andando maltrapilho. É bom minimizar o guarda-roupa.

    Dito isto, existem coisas que com o passar do tempo podem ficar mais bonitas. Os japoneses tem um nome pra isso: wabi-sabi.

    Wabi-sabi é a perspectiva de valorizar a imperfeição e transiência das coisas. Nada dura pra sempre, nada é perfeito, mas você pode enxergar a beleza da decadência e dos defeitos naturais. E você pode ver esta beleza nas suas roupas de diferentes formas.

    Em alguns casos, é um meio-passo antes da roupa chegar ao fim da vida útil. Um bom exemplo disso são jeans¹.

    Depois do primeiro ano de uso, ou as vezes até antes, um jeans começa a ficar com algumas marcas de descoloração. Os joelhos começam a ficar mais claros, as dobras perto da virilha ficam marcadas (o chamado “bigode de gato”), talvez até tenham um rasgo discreto aqui ou ali.
    Isso deixa a calça com a sua “cara”, e essa é a razão também pela qual não recomendo jeans pré rasgados, geralmente vendidos como “destroyed”. Não só eles tem menos tempo de uso, mas também eles sempre tem uma cara artificial, não tem autenticidade, não são realmente “seus”.

    ¹ parece que odeio eles pelo que falo aqui às vezes, mas na verdade só sou contra a hegemonia que deixa todo mundo absolutamente igual

    Em outros casos, a peça pode durar bastante (talvez até mais que você), mas isso não impede ela de mudar com o tempo e ganhar uma cara “envelhecida”. Sapatos e jaquetas de couro são assim: eles ganham uma cor particular – a pátina – com o passar do tempo, conforme a tinta sofre alterações pela ação do sol e elementos.

    E tem a terceira situação, que é a colcha de retalhos. E não uso o termo do forma pejorativa, porque muita roupa fica bem legal assim. Roupas que você remendou e modificou até que ela se tornou algo bem diferente do quê era.

    De exemplo, eu tinha uma calça mais antiga e gasta na época da faculdade. Em algum trabalho que fizemos, peguei tinta de tecido e desenhei nas pernas dessa calça. De uma calça velha e detonada ela se tornou algo interessante: agora era uma “calça Bauhaus” (porque foi matéria na faculdade e achei legal o lance das formas básicas nas cores primárias).

    Então pratique o desapego, mas não deixe de apreciar o ciclo de vida das suas roupas. Aprecie a “beleza da decadência”, como dizia a música do Tears For Fears.

  • Desapego

    Desapego

    Essa calça aí da foto era minha calça favorita. Eu mesmo fiz a modelagem e cortei. O tecido era uma lã muito confortável (que esquenta bem menos que muita gente pensa), num marinho bem escuro quase preto e as pregas me davam uma boa mobilidade.

    Mas essa calça foi feita há cerca de 4 anos atrás. De lá pra cá eu consegui (com muito esforço) ganhar 10 kg. A calça teve que ser ajustada algumas vezes, mas tem um limite pro quanto dá pra fazer isso. Além do mais, ela teve bastante uso.
    Como eu mantenho um guarda-roupa mais minimalista, eu usava essa calça duas ou três vezes por semana. Ela sofreu um acidente aqui ou ali também, precisando de reformas, o mais grave sendo quando uma cadeira de palha enganchou nela e abriu um rasgo atrás (sorte que eu tava de cueca preta).

    Então, uns meses atrás eu aposentei minha calça favorita. Simplesmente não tava mais legal pra usar em público. E pensei na dificuldade que temos às vezes com isso.

    Suas roupas não vão te servir pra sempre. Algumas vão gastar, outras vão ficar pequenas/grandes por conta do seu corpo mudando, e muitas vezes seu estilo vai mudar ao ponto que elas não vão mais fazer sentido. Quando isso acontece, você tem duas opções:

    1. Deixar a roupa guardada no armário, acumulando mofo, ocupando espaço e sendo um peso morto.
    2. Desapegar, doando num brechó/bazar ou jogando fora se estiver muito detonada.

    Seja grato pelo tempo que a roupa te serviu, mas não guarde nada que não te serve mais. Quando você faz isso, você atrapalha coisas novas de entrar.

  • Opções demais

    Opções demais

    Todo mundo adora opções. Mas será que em excesso isso pode ser negativo? Vejamos…

    No ano 2000, dois pesquisadores decidiram testar o efeito que opções tem nas nossas escolhas¹. Eles montaram dois quiosques numa mercearia na California, e ofereceram diferentes sabores de geleia pros clientes degustarem, e se quisessem, comprarem. O primeiro quiosque tinha 24 variedades de geleia. Já o segundo quiosque, montado um semana depois, só 6 variedades. Como se esperava, mais clientes pararam no quiosque com mais opções.

    Porém…

    Quando os pesquisadores examinaram o quê os clientes compraram, eles ficaram impressionados: os resultados iam contra muito das teorias psicológicas e econômicas sobre motivação e escolha racional. Isso porque, dos clientes que visitaram o quiosque com 24 geleias diferentes, só 3% compraram. Mas no quiosque com menos opções?

    30% de vendas.

    Em outras palavras: reduzir as opções dos clientes de 24 pra 6, resultou em um aumento de 10% nas vendas!

    Outros estudos similares foram realizados desde então, confirmando a conclusão de que: opções demais sobrecarregam as pessoas e atrapalham a escolha.

    E por que estou falando tudo isto? Me diga, quantas camisas você tem no seu guarda-roupa? Quantas calças? Casacos? Sapatos? Acho que você já entendeu onde estou indo com isto…

    Se você tem um guarda-roupa forrado, muito provavelmente você não está usando quase nada dele. Capaz de cair na velha situação de olhar seu armário antes de sair e chegar à conclusão de que não tem nada pra vestir — apesar de ter um monte de coisa lá dentro.

    E é por isto que a curadoria é tão importante, especialmente neste mundo saturado de opções. Restringir suas escolhas pode te ajudar a enxergar mais claramente suas opções (ao invés de te confundir). Menos é mais.

    É claro, não estou tentando te convencer a não ter opções. Não precisa viver com só 1 calça, 2 camisas e 1 par de sapatos, como alguns minimalistas mais extremos (mas se isso funciona pra você, manda ver). Só quero te ajudar a enxergar de forma mais consciente suas opções. E como eu disse antes, grande parte dos homens mais bem vestidos não tem tantas roupas assim.

    Então, o primeiro passo, é fazer uma triagem do quê você não usa e eliminar suas falsas opções. Só de tirar estas roupas que não usa, você vai conseguir enxergar melhor aquilo que realmente te ajuda. E vai enxergar também o quê está faltando.

    ¹O nome do artigo, para quem estiver curioso, é When Choice is Demotivating: Can One Desire Too Much of a Good Thing?

  • “Um passo por vez…”

    “Um passo por vez…”

    “…Um soco por vez. Um round por vez.”

    Eu gostei dos filmes da série Creed. Eu sei, não são legais quanto Rocky (mas também, pouca coisa é). Mas eles tem uma grande vantagem: o Stallone velho.

    Depois de se tornar um senhor de idade, o cara virou um dispenser de sabedoria. Por exemplo: todo mundo já viu aquele trecho do Rocky Balboa, no qual ele tá falando umas verdades da vida pro filho. E se você conhece a história da carreira¹ do cara, faz sentido ele ser assim hoje.
    ¹se não conhece, recomendo que dê uma conferida na dificuldade que foi pra fazer o 1º Rocky

    Enfim, no 1º Creed, tem essa parte que eu gosto, onde ele está treinando o protagonista. Como é tradição, rola aquela montagem de cenas com música legal no fundo, um pouco de diálogo por cima, e aquela coisa toda motivadora. E nesse trecho, ele fala isso:

    “Um passo por vez.
    Um soco por vez.
    Um round por vez.”

    É algo simples, mas sábio em sua simplicidade. E às vezes esquecemos dessa lição: de que você tem que focar no passo a passo, em cada parte do processo, pra ter resultados.

    Ninguém ganha um jogo pensando na vitória, focando no placar. Você ganha o jogo pensando em marcar cada ponto, pensando em cada jogada. Você ganha se mantendo no processo, cuidando deste, e confiando que o resultado cuidará de si mesmo. O mesmo se aplica à sua imagem.

    Isso é especialmente verdadeiro na imagem masculina, que é em grande parte à respeito de detalhes. Claro, é importante ter uma visão, uma meta a atingir. Mas depois que você estabeleceu o quê quer, foque no processo. Baixe a cabeça e trabalhe, diligentemente, com confiança que o resultado cuidará de si, se você cuidar dos passos até lá.

    Pense em como é sua imagem ideal e vá, um passo por vez, construindo isto. Compre uma peça por vez. Mande ajustar. Aprenda qual cor fica boa em você. Descubra algumas que não ficam. Conheça a modelagem desta loja, e daquela outra. E de pouco em pouco você segue, até que um dia… Percebe que chegou lá.

    É claro, aí é hora de estabelecer uma nova meta

  • Pareto e sua imagem

    Pareto e sua imagem

    Uma coisa surpreendente a muitos quando conferindo o guarda-roupa de gente que consideram bem vestida — ou que tem estilo, ou etc — é notar que estes muitas vezes não tem tanta roupa. As pessoas tendem a pensar que, pra ser bem vestido, você precisa de um monte de roupas. “Mais = melhor”, né?

    A realidade é na verdade um belo exemplo do princípio de Pareto: 80% dos efeitos vem de 20% das causas (e o resto é o inverso). As pessoas cuja aparência admiramos, invariavelmente, são aquelas que acertam em algumas coisinhas muito importantes (os 20% que resultam em 80%), e não perdem muito tempo com coisas de baixa importância (os outros 80% que resultam em apenas 20%). E isto é um bom modelo para pensar no seu guarda-roupa e na sua imagem.

    Uma boa jaqueta de alfaiataria, por exemplo, vai servir em 80% das ocasiões e vai ter um impacto enorme na sua imagem. Nas palavras da minha professora de consultoria: um blazer é um upgrade instantâneo no visual de qualquer homem. Então, ao invés de investir num monte de roupas, se preocupar em acertar duas ou três jaquetas vai te dar muito mais resultado. Menos é mais, no caso.

    E é importante notar que isto pode funcionar de forma negativa. Um par de sapatos de bico quadrado é algo menor no conjunto da sua aparência (20%), mas vai ter um impacto extremamente negativo no todo (-80%). É o equivalente de ter um pedaço de alface nos dentes: a coisinha minúscula grita “olha pra mim!” e acaba com a sua imagem. Meias brancas são outro ótimo exemplo de Pareto negativo (exceto no caso de você usar um costume branco, como um certo southern gentleman).

    E não precisa se ater a quais são as peças do guarda-roupa pra este pensamento: pense nas características delas também. Por exemplo, sua roupa pode ser cara (não que isto sempre seja tão importante), de boa confecção, tecido decente, e numa cor que fica bem em você, mas… Nada disso importa se ela estiver 2 números maiores que seu corpo.

    É claro, o quê constitui os seus 20%/80% (ou 4%/64% — Pareto ao quadrado) vai variar um pouco de pessoa pra pessoa. Alguns exemplos:

    • Se você transpira muito, roupas que respiram bem vão ter um impacto muito maior do quê usar as cores ideais — difícil parecer elegante com a camisa manchada de suor (talvez uma sub-camisa seja a solução também).
    • Já você que tem proporções muito incomuns (meu caso), provavelmente acertar o tamanho e ajuste das roupas vai ter um impacto gigantesco e deve ser prioritário.
    • Pra você que trabalha em um ambiente formal, ter alguns bons costumes e o resto que os acompanha tem uma importância maior que ter roupas legais pra sair no fim de semana.
    • Contrariamente, você que trabalha em uma área criativa, onde é vantajoso ser bem expressivo com as roupas, algumas poucas peças inusitadas que servem de marca-registrada serão uma ótima pedida.

    Então se pergunte: o quê causa um impacto desproporcional na minha imagem? Quais são as roupas que constituem seu 20% — aquelas que, se você acertar, resolvem sua imagem quase por inteiro? Quais são as poucas roupas você usa a maior parte do tempo? Quais são as características das suas roupas que mais importam nos contextos da sua vida?

    Responda estas perguntas, e foque no mais importante.