Terminei de ler recentemente o ótimo livro The Narrow Road, do Felix Dennis¹, e vou compartilhar aqui algumas coisas do capítulo onde ele fala sobre dress codes.
Entre outras coisas, ele aconselha quem estiver começando no mundo dos negócios a se vestir de maneira mais conservadora, “com trajes de negócios e com acessórios tradicionais”. Afinal de contas, “é você pedindo aos outros para investir em você, seja trabalhando para você, seja sendo seus fornecedores, seja confiando de qualquer forma”. Segundo ele, “se vestindo de maneira que alguns podem considerar à moda antiga, você demonstra respeito sem exibir deferência indevida”.
Eu concordo plenamente com os conselhos: você está o tempo todo se vendendo aos outros, e quando é um produto novo e desconhecido, é importante diminuir ao máximo possível o medo das outras pessoas de se arrepender da compra.
Mas o quê achei mais legal foi o quê ele disse depois:
“É uma questão de escolha pessoal, mas eu achei o hábito útil de outra maneira. Quando eu visto meu costume, camisa branca, gravata e sapatos pretos, eu estou subconscientemente vestindo armadura. Eu estou saindo para batalhar. Ninguém vai me dar mais dinheiro — eu vou ter que ganhar. Me vestindo desta forma eu lembro a mim mesmo que estou me vestindo pra guerra, não saindo prum passeio no parque.”
Ele não foi o primeiro a dizer que o costume de alfaiataria é a armadura do homem moderno (nem o primeiro a enaltecê-lo). Mas poucas vezes vi dito tão bem.
É uma guerra lá fora, você não deve sair despreparado, certo?
¹ se não conhece esse camarada, sugiro que leia sobre a vida dele, é bem interessante.
Continuando a série sobre peças esquecidas (ou no caso de hoje, quase), hoje vou falar sobre a principal alternativa às gravatas convencionais: as gravatas borboleta.
Quem me conhece sabe que eu sou muito chegado nelas (herdei o gosto do meu avô, aparentemente). Mas primeiro, vamos esclarecer algo de terminologia:
O quê chamamos de gravata borboleta na verdade é só uma das criaturas da família das gravatas laço. Entre as mais comuns temos também a ponta de diamante e a asa de morcego, vistas abaixo.
O termo gravata laço caiu em desuso aqui no Brasil conforme elas ficaram mais raras. Mas se um dia você conversar com algum senhor de bastante idade, ele vai te contar de como antigamente se falava em gravatas laço.
Feita essa explicação, vamos falar sobre a peça em si: quais modelos usar (e quais fugir), quando usar, e também conselhos de como usar.
Qual usar
A primeira coisa a se saber é que não se usa gravata de nó pronto. Isso vale pra gravatas convencionais e igualmente pra laços. Se for usar um laço, encontre dos que você mesmo faz o nó, como este exemplo abaixo:
Então, qualquer coisa que for de nó pronto, fuja. “Mas ninguém vai perceber!“, você talvez diga.
Sim, vão.
A gravata de nó pronto tem aspecto artificial, parece fantasia. Mas mais importante: as pessoas que percebem tendem a ser as que você quer mais impressionar. Além do mais, é um grande prazer quando você aprende e faz o nó por conta própria, dá uma sensação de vitória.
Quando usar
Seguindo em frente, você pode estar em dúvida de quando usar. A “regra” pra isso é simples: uma gravata convencional cabe nessa situação? Então um laço também. Na verdade, essa família de gravatas é até mais próxima à ancestral de ambas, e em situações formais e semi-formais noturnas (todo um assunto pra outro dia), são as únicas opções aceitáveis.
Como usar
Por último, vamos falar de como usar. Pra ficar bem proporcional, o seu laço pronto deve ter aproximadamente a largura do seu rosto. Se ficar menor, vai fazer sua cabeça parecer gigante. Se ficar maior, você fica com aspecto caricato. Gravatas que você mesmo faz o nó vem com ajustadores, pra você arrumar pro seu tamanho de pescoço e rosto.
Há quem diga que elas devem ser usadas exclusivamente com coletes ou com jaquetas transpassadas, porque elas deixam um espaço vazio no peito onde uma gravata convencional cobriria. Eu discordo que seja obrigatório, mas concordo que tende a ficar um pouco mais bonito assim. Então, se já gosta, ou se tem vontade de usar coletes (ou cardigãs), tá aí um incentivo.
E por ter um aspecto inusitado, essas gravatas são um pouco mais fáceis de usar num look mais informal. Se quer uma ideia simples de fazer, mas que vai te destacar, é só colocar uma camisa clara e uma gravata borboleta escura, com o resto das suas roupas bem casuais — digamos, um jeans, jaqueta de couro e um par de Converse ou de botas. Esteja preparado pra muita gente te olhando, mas esteja preparado também pra alguma garota que você ainda não conhece exclamando “moço, você é MUITO estiloso”.¹
Quem usa
Por fim, é importante notar que essas gravatas, e quem as usa, tem uma certa fama. Homens que usam gravatas laço são geralmente vistos como sendo fora da norma, autênticos e individualistas. Isso é o quê acontece quando você tem de exemplo gente como Winston Churchill e Le Corbusier.
Estava desenvolvendo uma calça prum camarada outro dia, e surgiu a ideia de uma nova categoria pro blog: sobre roupas legais que caíram em desuso. E pra começar, vou falar sobre estas calças que o Frank Sinatra veste na foto (e em mais outras — ele gostava do modelo): as calças Hollywood.
A razão pela qual vou falar desta e outras peças é que tem muita coisa legal no passado e que pode beneficiar muita gente — isso é, se as pessoas souberem que essas roupas existem.
Você vê, calças comuns são feitas com uma parte chamada de cós, que é a faixa na cintura que fecha com um botão ou colchetes. Mas no caso das calças Hollywood — nome adquirido porque eram populares com o povo do cinema da primeira metade do século XX — não existe cós: o tecido das pernas continua até a sua cintura e aí é dobrado pra dentro e costurado, gerando essa silhueta alongada.
Estas calças sempre são feitas com pregas, que sem entrar em complicações técnicas, ajudam muito na hora de fazer a roupa se conformar ao seu corpo na ausência do cós. A versão mais conhecida é com passantes para cinto (geralmente posicionados mais baixo que em outras calças, como na foto do “Ol’ Blue Eyes”), mas ela pode ser pra suspensórios ou ter ajustadores laterais também.
Desenho técnico do modelo
Agora, vamos ao mais importante: quais as vantagens dela?
Um dos princípios de design que se aplica na hora de escolher suas roupas, é que continuidade e linhas verticais alongam a silhueta. Por exemplo: um costume (continuidade) com riscas-de-giz verticais (linhas) faz você parecer mais alto que uma calça e paletó de cores sólidas diferentes.
E como você deve ter notado na ilustração, a calça tem os vincos nas pernas e as linhas das pregas. Juntando isso com a ausência de cós — eliminando uma linha horizontal — você tem uma silhueta bem alongada. Isto torna estas calças uma alternativa interessante pra você parecer mais alto e mais magro, especialmente se for a versão sem cinto.
A má notícia é que não são calças que você consegue encontrar prontas. A boa notícia, é que são fáceis de fazer, então você pode ir em qualquer alfaiate e pedir pra ele construir uma pra você.
Estava conversando com um amigo outro dia, e ele dizia que precisava colocar mais alfaiataria no visual dele — que segundo o mesmo, “não é 100% formal, mas também não devia continuar como é, no 0%”. Isso me lembrou da distinção que passa batida por grande parte dos homens, entre alfaiataria e formalidade.
Vou chutar aqui que você tem um jeans ou alguma outra calça de sarja no seu guarda-roupa. Bem, isto é algo que veio da alfaiataria. Os primeiros jeans foram criados por um alfaiate pra servirem de calça reforçada pra trabalho braçal — por isto os rebites e os bolsos chapa.
Chuto também que você tem alguma camisa esporte. Mangas curtas, tecido estampado, gola mole, etc. Uma camisa do tipo que não funciona com gravatas, muito menos um costume. Isto é alfaiataria também, mas você vai concordar que não é formal, né?
E este é o ponto: A maior parte das roupas masculinas tem origem na alfaiataria já. Mas isso não torna elas formais, como percebe.
Não que você deveria ter medo de se arrumar mais, aliás. Mas se quer roupas casuais de alfaiataria, é só buscar algumas com elementos mais esportivos pra conseguir uma imagem levemente relaxada, e ainda vai ganhar as vantagens das roupas de alfaiataria.
Algo com mais textura, como um casaco de veludo. Ou num tecido com padrões, como uma calça com listras grossas. Talvez uma roupa meno estruturada, como uma camisa oxford. E mesmo qualquer peça em cores mais chamativas. Tudo isso vai deixando sua roupa mais casual.
Você pode tornar sua imagem mais esportiva com combinações também. Calças de alfaiataria com camiseta e uma jaqueta de denim. Jeans com blazer e camisa esporte. Etc.
Há um mar de possibilidades aí. Que tal explorar mais?
Você pode errar um pouco na escolha de cores. Você pode usar uma camisa que não está na medida ideal. Você pode combinar peças de maneira um pouco questionável. Você pode até usar algo que precisa lavar. Pequenos erros como estes são perdoáveis, e não vão, por si só, destruir seu visual.
O mesmo não pode ser dito de uma escolha ruim de sapatos.
“Quer saber se um cara está bem vestido? Olhe pra baixo.”
George Frazier
Conhece a expressão “tiro no pé”, né? Pois bem, no mundo da indumentária masculina isso é quase literal. O quê você veste nos pés é a palavra final de quão bem vestido está. Razão pela qual você sempre pode usar sapatos um pouco mais formais do quê o resto do seu traje, mas o contrário é considerado uma gafe.
As razões disto, sendo sincero, não sei bem. Instinto humano, talvez? Porque me lembra algo curioso que aprendi, estudando linguagem corporal: nossos pés são a parte mais sincera do nosso corpo.
A explicação vai que, em situações de perigo, a decisão de ficar ou correr é a diferença entre a vida e a morte, e portanto não pode ser deixada pro nosso raciocínio ou emoções — ambos lentos demais. Nossos instintos, que são quase instantâneos, comandam nestas horas.
Por conta disso, é muito difícil mentir com os pés. Se a conversa de alguém te entedia, seus pés vão começar a apontar numa rota de fuga. Se você estiver se sentindo acuado, seus pés vão ficar mais juntos. Se está inquieto, vai começar a mexer os pés. E se achou alguém interessante, provavelmente vai apontar ao menos um dos pés na direção da pessoa.
Mas, qualquer se seja a razão, o fato é que sapatos vão ter um impacto desproporcional na sua apresentação. Então, o quê acha de investir um pouco mais neles?