Statue of Roman Emperor Augustus

Homens sempre se importaram

De vez em quando fico surpreso que tem muito sujeito que ainda tem aquela noção ultrapassada de que não pode admitir que se importa com a própria aparência, porque isso “não é coisa de homem“. Escuto alguma conversa ou esbarro em algo online e lembro que tem caras que ainda pensam isso.

Mas sabe de algo irônico? Historicamente, homens sempre se preocuparam mais com a própria aparência do quê mulheres.

Soa estranho, mas é verdade: estudando a história da indumentária ao redor do mundo (e aqui tem um bom livro sobre), você vê por exemplo, que em todas as culturas homens sempre são os primeiros a adotar novas formas de se vestir. Você pode ver isso também hoje em dia em subculturas, que quase sempre são iniciadas por homens e depois adotadas por mulheres.

Uma das razões disso é o fato de quê homens sempre foram mais propensos a viajar e explorar, e por consequência lidar com pessoas de fora da própria comunidade. Por isso também, transmitir mensagens não verbais sempre foi algo muito importante: eu posso não entender a língua dessa tribo que acabei de conhecer, mas se um dos caras tem um colar de dentes de urso e veste a pele do bicho, algo me diz que é melhor respeitar o sujeito.

Outra questão é que o quê homens buscam comunicar com suas roupas não é tanto atratividade e beleza (isso tende a ser como mulheres se apresentam), mas mais competência e poder. Se prestar atenção nas roupas de homens de diferentes culturas, notará que grande parte das vezes, elas buscam projetar uma imagem imponente.

Isso explica a tendência mundial de homens realçarem seus ombros, por exemplo. Desde um kamishimo no período sengoku do Japão, passando por epaulettes nos uniformes militares franceses do século XVII, até chegar nas jaquetas de couro de membros de clubes de moto, todos realçam a massa na parte superior do corpo. Também é a razão de muito do guarda-roupa masculino ter sua origem em roupas militares, de caça ou de trabalho. Dando três exemplos próximos aqui:

  • O famoso trench coat surgiu como um sobretudo militar (o nome é literalmente casaco de trincheira) antes de ser adaptado à vida civil.
  • A jaqueta Norfolk era uma roupa usada em caçadas, mas encontrou um caminho como jaqueta casual na vida urbana.
  • E o jeans, famosamente, surgiu como uma calça para trabalhadores braçais (mineiros e estivadores, primariamente), antes de ser adotado pelo resto da sociedade.

E ao contrário do que muitos dizem por aí, roupas masculinas não necessariamente eram puramente funcionais também. Procure imagens de armaduras e notará que tem alguns detalhes puramente decorativos, que não servem nenhuma função prática, mas eles comunicam algo. Ou veja quadros da corte francesa do século XVII, e note a opulência.

Enquanto alguns caras hoje em dia vivem no conforto do século XXI e falam que se importar com a aparência “não é coisa de homem“, os antepassados destes, que muitas vezes mataram e morreram literalmente, tinham uma atitude diferente. Interessante pensar nisso, né?