Author: vinicius.b.gennari

  • Falando errado

    Falando errado

    Enquanto eu considero que as “regras” da indumentária masculina devem ser encaradas mais como guias, também faço questão de enfatizar que devemos conhecer estas regras antes de poder quebrá-las. Mas qual é a razão prática disso?

    Pense comigo: se sua imagem é uma forma de comunicação, quando você se veste todo “errado” é o equivalente então a falar tudo errado, né? Em outras palavras, é a versão indumentária de falar pobrema.

    E qual o problema disso?

    O problema é que quem vê (ou escuta) inconscientemente fica com uma impressão ruim de você. Mesmo que não seja verdade. E eu já conheci gente esperta que falava algumas coisas errado (assim como gente com o vocabulário excessivamente rebuscado que era bem besta). Mas não interessa: a impressão ruim fica, e o tratamento acaba sendo também menos que legal.

    Alguns podem tentar argumentar ainda que não estão falando errado, só estão falando em outra língua. Mas se você não fala a língua da pessoa com quem está tentando se comunicar, ninguém vai te entender.

    Por isso que é bom seguir as ditas “regras”, pelo menos no começo. Claro que ninguém é perfeito, mas isso não é desculpa pra ficar como está, né?

  • Maestria

    Maestria

    Há muitos anos atrás, eu escutei um camarada falando sobre a ideia ilusória que nós temos sobre se tornar um “mestre”. Quando começamos a aprender algo, nós inconscientemente assumimos que a jornada tem um fim.

    Isso acaba acontecendo com todo cara que decide melhorar a própria imagem também. Você cria a expectativa de que um dia vai ter o guarda-roupa ideal e não vai mais precisar mudar nada. Depois de anos estudando e praticando, você finalmente é o sábio da montanha e entende tudo que tem pra se entender de roupas.

    …é claro que isto nunca vai ser verdade. Se você conferir qualquer sujeito bem vestido (como o senhor David Niven), vai ver que de um ano pro outro ele mudou algo aqui ou ali no seu guarda-roupa. Se conversar com ele, vai descobrir que ele enxerga algumas coisas que precisa melhorar (e talvez até tenha vergonha de algumas coisas que vestia recentemente).

    Sem falar que seu corpo vai mudar. Seja por comer demais, seja por se exercitar, ou seja pelo que for, você vai ter um corpo diferente daqui alguns anos, e ou suas roupas vão refletir isso, ou você vai ficar mal vestido.

    Pra completar, sua vida muda também. Quando você era um adolescente que ia na Galeria do Rock todo fim de semana, era normal que seu guarda-roupa fosse todo preto. Mas agora que você terminou a faculdade e tá buscando clientes pra sua startup, é melhor ter algo além de jeans preto e camiseta do Marduk.

    Então é bom termos a humildade do Confúcio:

    Aos 15 anos meu coração concentrou-se com rigor nos estudos, aos 30 anos pude manter-me em pé, aos 40 abandonaram-me as dúvidas, aos 50 anos conheci o Decreto dos Céu. Aos 60 anos, meus ouvidos abriram-se docemente para a Verdade, aos 70 anos pude seguir os desejos do meu coração sem transgredir nunca com a regra.

    Confúcio, Analectos de Confúcio

    A jornada nunca acaba.

  • Relíquias indumentárias: Gravatas borboleta

    Relíquias indumentárias: Gravatas borboleta

    Continuando a série sobre peças esquecidas (ou no caso de hoje, quase), hoje vou falar sobre a principal alternativa às gravatas convencionais: as gravatas borboleta.

    Quem me conhece sabe que eu sou muito chegado nelas (herdei o gosto do meu avô, aparentemente). Mas primeiro, vamos esclarecer algo de terminologia:

    O quê chamamos de gravata borboleta na verdade é só uma das criaturas da família das gravatas laço. Entre as mais comuns temos também a ponta de diamante e a asa de morcego, vistas abaixo.

    O termo gravata laço caiu em desuso aqui no Brasil conforme elas ficaram mais raras. Mas se um dia você conversar com algum senhor de bastante idade, ele vai te contar de como antigamente se falava em gravatas laço.

    Feita essa explicação, vamos falar sobre a peça em si: quais modelos usar (e quais fugir), quando usar, e também conselhos de como usar.

    Qual usar

    A primeira coisa a se saber é que não se usa gravata de nó pronto. Isso vale pra gravatas convencionais e igualmente pra laços. Se for usar um laço, encontre dos que você mesmo faz o nó, como este exemplo abaixo:

    Então, qualquer coisa que for de nó pronto, fuja. “Mas ninguém vai perceber!“, você talvez diga.

    Sim, vão.

    A gravata de nó pronto tem aspecto artificial, parece fantasia. Mas mais importante: as pessoas que percebem tendem a ser as que você quer mais impressionar. Além do mais, é um grande prazer quando você aprende e faz o nó por conta própria, dá uma sensação de vitória.

    Quando usar

    Seguindo em frente, você pode estar em dúvida de quando usar. A “regra” pra isso é simples: uma gravata convencional cabe nessa situação? Então um laço também. Na verdade, essa família de gravatas é até mais próxima à ancestral de ambas, e em situações formais e semi-formais noturnas (todo um assunto pra outro dia), são as únicas opções aceitáveis.

    Como usar

    Por último, vamos falar de como usar. Pra ficar bem proporcional, o seu laço pronto deve ter aproximadamente a largura do seu rosto. Se ficar menor, vai fazer sua cabeça parecer gigante. Se ficar maior, você fica com aspecto caricato. Gravatas que você mesmo faz o nó vem com ajustadores, pra você arrumar pro seu tamanho de pescoço e rosto.

    Há quem diga que elas devem ser usadas exclusivamente com coletes ou com jaquetas transpassadas, porque elas deixam um espaço vazio no peito onde uma gravata convencional cobriria. Eu discordo que seja obrigatório, mas concordo que tende a ficar um pouco mais bonito assim. Então, se já gosta, ou se tem vontade de usar coletes (ou cardigãs), tá aí um incentivo.

    E por ter um aspecto inusitado, essas gravatas são um pouco mais fáceis de usar num look mais informal. Se quer uma ideia simples de fazer, mas que vai te destacar, é só colocar uma camisa clara e uma gravata borboleta escura, com o resto das suas roupas bem casuais — digamos, um jeans, jaqueta de couro e um par de Converse ou de botas. Esteja preparado pra muita gente te olhando, mas esteja preparado também pra alguma garota que você ainda não conhece exclamando “moço, você é MUITO estiloso”.¹

    Quem usa

    Por fim, é importante notar que essas gravatas, e quem as usa, tem uma certa fama. Homens que usam gravatas laço são geralmente vistos como sendo fora da norma, autênticos e individualistas. Isso é o quê acontece quando você tem de exemplo gente como Winston Churchill e Le Corbusier.

    ¹baseado em fatos reais.

  • Porquê todo homem deve ter um costume

    Porquê todo homem deve ter um costume

    Provavelmente você já escutou alguma vez que todo homem deve ter um “terno” (se referindo na verdade a um costume 99% das vezes). Mas já parou pra pensar nas razões disso? Vamos lá…

    A não ser que você viva isolado numa ilha (e se é o caso, estou curioso pelo seu interesse no blog), em determinado momento você será convidado pruma ocasião um pouco mais formal, as duas mais comuns sendo casamentos e funerais. E quando somos convidados para eventos assim, devemos ter consideração com os outros — principalmente os donos do evento — e nos vestir de acordo.

    Mesmo que você não goste de roupa social, essa é a hora de deixar seus gostos de lado em respeito aos outros. E na sociedade ocidental, a convenção é que homens usam costumes ou ternos em ocasiões assim. Então, ter ao menos 1 é só uma questão de estar preparado pra algo inevitável.

    Mas note que eu falei em “ter um costume“, não ter acesso a um, seja alugando ou pegando emprestado. Já expliquei as razões pra não alugar este tipo de roupa, mas indo além hoje, quero falar de outra menos óbvia…

    A combinação do costume escuro + camisa clara + acessórios é a base de todo o resto do nosso guarda-roupa. Então, aprendendo a usar isso direito você vai pegando os fundamentos sobre cor e proporção, que vão te servir pra quando for vestir quase todas as outras roupas. É como uma bicicleta com rodinhas isso aqui. Exceto que é bonito.

    Só que você não aprende a usar uma combinação se só tem ela pra usar de vez em quando, né? Ainda mais considerando a qualidade das roupas de aluguel por aí. Por isso é importante ter seu próprio costume: você vai achar mais ocasiões pra usar, e vai desenvolvendo sua habilidade de se vestir bem.

    Mas que não seja preto, por favor.

  • Imagem instintiva e imagem cultural

    Imagem instintiva e imagem cultural

    Graças ao nosso pai e ao nosso tio, meu irmão e eu crescemos escutando muito rock progressivo. Pink Floyd, Genesis, Yes, e outras bandas clássicas do gênero: isso é o quê rolava lá em casa quando éramos crianças. E até hoje gostamos bastante, então as reuniões de família podem ter uma trilha sonora bem psicodélica.

    E tem um negócio bem interessante sobre a banda Yes: se você pegar as letras de muitas das músicas, elas… não fazem lá muito sentido. “Chame de manhã dirigindo através do som e dentro e fora do vale”¹? Escutando isso com pela primeira vez você pode pensar “o cara que escreveu as letras tava muuuiiito louco…”.

    Mas, por incrível que pareça, as letras não são assim por acidente (ou muitas drogas). O quê o vocalista fez foi tratar a voz como só mais um instrumento, então ele priorizou a sonoridade das palavras ao invés do sentido delas. Até fez um esforço pra de vez em quando ter algum sentido, mas a sensação que você tem quando escuta a música era mais importante.

    Agora, essa é uma boa analogia prum jogo interessante que rola na nossa imagem: o jogo entre impressões instintivas e significados culturais.

    Analisando roupas masculinas ao redor do mundo e ao longo da história, você vai ver certos padrões. Seja no Japão feudal, na Roma antiga, ou em Buenos Aires atualmente, tem certos motivos estéticos comuns. Um dos mais óbvios, e que vou usar aqui pra explicar a ideia, é que em toda cultura homens buscam chamar atenção pros ombros e costas. Procuram fazer parecerem maiores, ou ao menos mais fortes.

    Isso não é porque há 10.000 anos atrás, toda a humanidade se reuniu e concordou que “essa silhueta é bem legal mesmo”. É algo mais primitivo que isso: seres humanos tem instintos estéticos. E entre estes instintos, existe o de reconhecer homens com ombros e costas fortes como sendo melhores nas coisas que eles sempre fizeram pra garantir a sobrevivência da espécie. Estes homens são portanto, mais vantajosos de se associar e mais importantes de respeitar. Daí em parte, vem nosso conceito de beleza masculina.

    Na analogia da música, isso é o aspecto da sonoridade das letras: algo que mexe conosco instintivamente, independente de entendermos ou não o quê está sendo dito. A pessoa pode não entender as palavras, mas vai pegar que você tá bravo quando gritar um palavrão. E você pode não saber muito sobre a cultura Maori, mas se ver um guerreiro tatuado desde o rosto até o pé, você sabe que é um cara com quem não quer arrumar briga.

    Mas aí entra o segundo aspecto: o significado cultural. Assim como palavras transmitem ideias quando você entende o idioma, certas coisas da nossa imagem só fazem sentido se você sabe o contexto cultural. Um dos exemplos mais óbvios é a gravata: fora do contexto, é uma forca de seda no seu pescoço. Mas no contexto, isso comunica profissionalismo, seriedade, status, classe, etc.

    E o importante de notar nestes dois aspectos, é que o instintivo, enquanto universal, só transmite ideias mais básicas e rudimentares — é bem cru. O significado cultural, porém, pode transmitir ideias complexas e comunicar de forma mais sutil. Também funciona como um código, que só os iniciados pegam.

    Então você pode pensar na sua imagem dentro dessa dualidade: o quê fala de forma simples, pra todo mundo entender, e o quê fala em código, que é mais pro seu povo e transmite ideias mais profundas. Mas lembre-se que você sempre está falando algo.

    ¹Roundabout, do álbum Fragile, (e também do encerramento de JoJo’s Bizarre Adventure)