Author: vinicius.b.gennari

  • Sem prescrição

    Sem prescrição

    Eu evito escrever artigos muito prescritivos aqui no blog. Sabe aqueles “10 Sapatos para usar neste Verão”, ou “As melhores marcas de jeans no Brasil”, ou ainda “Os cortes de cabelo de 2020”? Então, esse tipo de artigo.

    Não que eu seja completamente contra esse conteúdo mais “beabá”. Eu sei como nós homens trabalhamos muito bem com guias mais diretas e regras. Então, de vez em quando, ainda vou recomendar uma coisa ou outra. Mas mesmo nestes casos, vou procurar aconselhar de maneira mais geral. Mas acho que é importante explicar o porquê desta atitude. E tenho 4 razões muito boas:

    1. Este tipo de conselho já tem até em excesso na internet. Verdade que a maioria é de qualidade… duvidosa. Mas também tem coisas boas por aí. E tem livros também, que é algo que recomendo muito mais. De qualquer maneira, não acho que eu tenho muito de novo pra acrescentar nessa linha.
    2. Grande parte desse conteúdo, daqui 1 ou 2 anos fica defasado. E não vejo valor em te passar um conhecimento com data de validade.
    3. Conselhos prescritivos funcionam muito melhor pessoalmente. Não querendo fazer ninguém se sentir o floquinho de neve mais especial do mundo, mas somos todos diferentes a ponto que este tipo de coisa vai funcionar melhor quando individualizada (essa razão pesa bem mais que as anteriores).
    4. E por último, conselhos prescritivos, enquanto úteis de vez em quando, tendem a gerar dependência. Se você precisa de mim (ou outros) pra te dizer o quê comprar e vestir, a verdade é que nunca vai aprender a se virar por conta. Uma hora tem que tirar as rodinhas da bicicleta.

    Por estas razões, minha proposta pra você é de explicar mais o pensamento por trás do vestir: porque isso ou aquilo é vantajoso (ou não); porque usamos roupas do jeito que usamos; o quê é útil considerar quando você vai às compras. A meta aqui é a mesma das minhas consultorias: de que um dia você não precise mais de mim. Que você seja independente.

    E aí, quem sabe? Talvez um dia seja você ajudando outros caras a melhorar a imagem.

  • Opções demais

    Opções demais

    Todo mundo adora opções. Mas será que em excesso isso pode ser negativo? Vejamos…

    No ano 2000, dois pesquisadores decidiram testar o efeito que opções tem nas nossas escolhas¹. Eles montaram dois quiosques numa mercearia na California, e ofereceram diferentes sabores de geleia pros clientes degustarem, e se quisessem, comprarem. O primeiro quiosque tinha 24 variedades de geleia. Já o segundo quiosque, montado um semana depois, só 6 variedades. Como se esperava, mais clientes pararam no quiosque com mais opções.

    Porém…

    Quando os pesquisadores examinaram o quê os clientes compraram, eles ficaram impressionados: os resultados iam contra muito das teorias psicológicas e econômicas sobre motivação e escolha racional. Isso porque, dos clientes que visitaram o quiosque com 24 geleias diferentes, só 3% compraram. Mas no quiosque com menos opções?

    30% de vendas.

    Em outras palavras: reduzir as opções dos clientes de 24 pra 6, resultou em um aumento de 10% nas vendas!

    Outros estudos similares foram realizados desde então, confirmando a conclusão de que: opções demais sobrecarregam as pessoas e atrapalham a escolha.

    E por que estou falando tudo isto? Me diga, quantas camisas você tem no seu guarda-roupa? Quantas calças? Casacos? Sapatos? Acho que você já entendeu onde estou indo com isto…

    Se você tem um guarda-roupa forrado, muito provavelmente você não está usando quase nada dele. Capaz de cair na velha situação de olhar seu armário antes de sair e chegar à conclusão de que não tem nada pra vestir — apesar de ter um monte de coisa lá dentro.

    E é por isto que a curadoria é tão importante, especialmente neste mundo saturado de opções. Restringir suas escolhas pode te ajudar a enxergar mais claramente suas opções (ao invés de te confundir). Menos é mais.

    É claro, não estou tentando te convencer a não ter opções. Não precisa viver com só 1 calça, 2 camisas e 1 par de sapatos, como alguns minimalistas mais extremos (mas se isso funciona pra você, manda ver). Só quero te ajudar a enxergar de forma mais consciente suas opções. E como eu disse antes, grande parte dos homens mais bem vestidos não tem tantas roupas assim.

    Então, o primeiro passo, é fazer uma triagem do quê você não usa e eliminar suas falsas opções. Só de tirar estas roupas que não usa, você vai conseguir enxergar melhor aquilo que realmente te ajuda. E vai enxergar também o quê está faltando.

    ¹O nome do artigo, para quem estiver curioso, é When Choice is Demotivating: Can One Desire Too Much of a Good Thing?

  • Ajuda ou atrapalha?

    Ajuda ou atrapalha?

    Algo que me perguntam com frequência é “posso…?“. Seja “posso usar X com Y?”, ou “posso usar Z com a minha altura/meu corpo?”, ou “posso usar A no evento B?”, eu escuto essa pergunta com frequência. E eu entendo o lado de quem tá perguntando, mas vou dizer que é a pergunta errada de fazer.

    No fundo, todos nós sabemos que a resposta à pergunta “posso…?” é quase sempre “sim!“. Não vai surgir uma polícia da moda e te prender por conta das suas roupas. Tirando algo extremo, como sair de sunga no meio da cidade, não tem muita coisa que você não pode no quê diz respeito à se vestir (e mesmo neste exemplo, existe o Carnaval…).

    Por essas que sempre aconselho todo mundo a deixar de pensar em termos de “posso ou não”. Mas se meu conselho fosse “se veste do jeito que quiser, vai dar tudo certo cara!”, isso também não ajudaria — nós dois sabemos que isso não é verdade. Vai numa entrevista de emprego numa calça de moletom velha, camiseta regata e chinelo, e depois me conta como foi.

    Então, só porque você pode, não significa que você deve — consequências existem. Isso tá bem claro. Então, o quê ofereço aqui uma ideia muito mais útil que o “posso ou não”:

    Ajuda ou atrapalha?

    Quando você pensa se ajuda ou atrapalha, você chega no cerne da questão: suas roupas e sua imagem são um meio para um fim. São ferramentas que você usa para atingir certos objetivos — objetivos sociais, profissionais, românticos ou pessoais.

    Isso é uma consideração muito importante, porque não existe nenhuma roupa que ajuda em toda situação. Por mais que eu adore alfaiataria, não vai funcionar na praia, ou jogando futebol. Por mais que você se sinta confortável de shorts, num casamento é uma ideia péssima e falta de respeito com todos os presentes. E por aí vai.

    E fazer a pergunta “ajuda ou atrapalha?” também te leva a questionar: Qual é o seu objetivo? O quê espera de bom nesse contexto? O quê quer evitar de ruim?

    Você pode muita coisa. Mas nem todas vão te ajudar.

  • Economia a longo-prazo

    Economia a longo-prazo

    Uns 10 anos atrás, estava lendo uma entrevista de um ícone de estilo que me ensinou essa lição que compartilho hoje. Este camarada era um sujeito que veio de uma família bem pobre: um legítimo self-made man, que conseguiu se tornar bem sucedido por muito esforço próprio. Quando perguntaram sobre como o estilo dele se desenvolveu nessa época mais humilde, ele falou algo que nunca esqueci:

    “Eu era pobre demais pra comprar sapatos baratos.”

    Soa contraditório, né? Mas faz bastante sentido… Se você pensar a longo-prazo.

    O custo da sua roupa, afinal, é só uma questão da referência de tempo e uso dela. Então comprando qualidade, você vai comprar menos vezes. Por exemplo:

    Se você for atrás de uma jaqueta de couro decente, está olhando aí pra talvez uns R$1.300,00 de etiqueta.
    Já uma de couro falso, você provavelmente consegue por R$300,00. Mas qual a durabilidade da primeira contra a da segunda?

    A primeira, bem cuidada, pode durar mais do quê você mesmo. A segunda tem provavelmente uns 2 anos antes de começar a se desfazer. Aí você vai ter que comprar outra. E depois outra, e outra, e outra…

    Então pense: você quer economizar hoje pra pagar em juros amanhã, ou prefere pagar mais à vista mas economizar no longo-prazo? São suas ferramentas, afinal.

  • Padrões de numeração

    Padrões de numeração

    Eu tava tirando dúvidas de um amigo outro dia, e surgiu uma bem comum que acho importante explorar: A questão de numerações e padronização.

    Até quem trabalha na indústria do vestuário muitas vezes tem uma impressão equivocada do assunto. Já escutei que “não existe padrão de medida no Brasil”, “cada marca faz a numeração do jeito que quer” e etc. Mas eu entendo o porquê as pessoas pensam essas coisas.

    A realidade é que praticamente todas as marcas seguem um padrão. Isto significa que se você comprar uma calça tamanho 42 de uma marca, e comparar com a de outra, elas são diferentes, mas seguem o mesmo padrão.

    Como isso?

    Isso é simplesmente porque o número — 42 no caso — se refere apenas à cintura, com todo o resto sendo livre para cada marca definir como acha melhor. O mesmo se aplica a camisas, camisetas, casacos, e o quê for. A numeração se refere só a uma medida principal, com o resto seguindo uma proporção mais livre.

    No exemplo da calça: ambas vão ter uma circunferência de 94cm na cintura (42×2), mas a de uma marca pode ter pernas mais compridas, enquanto a da outra talvez tenha mais espaço nas coxas, ou o cavalo mais baixo, etc.

    E na verdade, isso é uma coisa boa! (contraintuitivo, eu sei)
    Explicando…

    Como eu falei antes, é muito difícil fazer roupas para muita gente. Você acaba criando peças que não servem tão bem assim em ninguém. Mas o fato dos padrões da indústria só definirem algumas medidas principais dá liberdade pra cada marca trabalhar com o quê acredita ser melhor pro público dela. Assim, a indústria como um todo pode atender mais gente, do quê se toda marca fosse forçada a seguir um único padrão rígido.

    Se uma marca nota que grande parte das pessoas que compram dela tendem a ter braços mais compridos (talvez seja a favorita de jogadores de basquete), eles podem adaptar a modelagem para se adequar a esta galera, fazendo as mangas das camisas mais longas. Enquanto isto, outra marca atende a um público diferente e faz uma modelagem de acordo.

    Isso também vem da realidade de que, modelagem é 50% matemática, 50% arte. Como qualquer modelista ou alfaiate vai te dizer, não é uma ciência exata. Vai muito da intuição de quem faz e da tentativa e erro. O corpo humano não é particularmente reto, ou rígido, ou inflexível. Então mesmo duas marcas que atendem ao mesmo público, provavelmente vão ter pequenas (ou grandes) variações na sua modelagem.

    E o quê isto nos ensina? A prestar atenção nas marcas que fazem roupas que se adéquam melhor ao seu corpo. Possível que não encontre nada que te sirva tão bem de cara (eu sei bem como é isso). Mas capaz também de achar algumas marcas cuja modelagem serve bem depois de alguns poucos ajustes…