Author: vinicius.b.gennari

  • Alfaiate de confiança

    Alfaiate de confiança

    Um camarada me mandou umas dúvidas cujas respostas provavelmente vão interessar mais gente. Ele está começando a mandar fazer roupas sob medida, mas ainda está bem perdido em como encontrar um alfaiate de confiança. Então, tirando as dúvidas dele, parte por parte:

    “Como eu acho um bom alfaiate?”

    Pesquisando online é bem capaz de você se surpreender com os alfaiates (e camiseiros) que existem perto de você. Apesar da fama de ser uma profissão em extinção, existem muito mais deles do quê a gente pensa. Então simplesmente pesquisar na sua ferramenta de busca favorita por “alfaiates na minha cidade” pode dar muitos resultados. Alguns mais novos também estão divulgando o trabalho dele em mídias sociais, então dê uma conferida lá.

    Mas uma abordagem mais segura é perguntar para homens que você vê usando costumes ou roupas de alfaiataria no geral. Alguns vão falar que só compram em tal e tal loja, mas alguns provavelmente vão poder te indicar um ou mais alfaiates que eles confiam. Nisso você já tem uma ideia também do trabalho do alfaiate em questão, o quê facilita sua escolha.

    Alternativamente, mulheres tem mais o hábito de mandar ajustar roupas, então perguntando pra elas há uma probabilidade boa de te indicarem algum alfaiate (mas neste caso, sugiro ter mais cautela, pois o público feminino tende a ser menos exigente com a qualidade de construção das roupas).

    Ainda tem também a opção de perguntar para lojistas da sua região. Se conhecer lojas de tecido e armarinhos, é bem capaz de eles terem alguns alfaiates como clientes pra te indicar.

    Por último, alfaiates e costureiras tendem a conhecer outros alfaiates e costureiras da região. Então se conhecer um, dê uma perguntada pra ver se eles conhecem outros.

    “É só testar alguns até eu achar um que eu goste?”

    Bem, isso é uma alternativa, sem dúvida… Mas é uma alternativa cara. É bem mais barato conferir o trabalho dele pronto.

    Todo alfaiate sempre tem algumas peças de mostruário, ou ao menos roupas nas quais está trabalhando. Você pode (deve na verdade) pedir pra dar uma olhada. Preste bastante atenção na construção e atenção a detalhes: as costuras estão bem feitas, retas e acabadas, ou são tortas e grosseiras? Roupas com listras ou xadrez estão casando, ou o alfaiate nem se preocupou? Os bolsos estão simétricos e bem acabados? O forro está bem colocado? Etc.

    Quanto mais minucioso parecer, melhor geralmente. É claro, se você conheceu determinado alfaiate por indicação de outro homem, isso vai facilitar. Peça pra ver o casaco dele e inspecione bem por dentro, buscando qualquer defeito de construção.

    “Eles são todos mais ou menos iguais?”

    Nem de perto! Uma das razões pelas quais roupas prontas se tornaram o normal, é que você saber exatamente pelo quê está pagando evita surpresas desagradáveis. É muito chato mandar fazer uma roupa, pagar, esperar ficar pronta… E terminar com algo que você não gostou.

    Então você pode usar preço como um indicativo: alfaiates bons não costumam cobrar tão barato (exceções existem, é claro). Conferir o trabalho como eu falei no ponto anterior também é essencial. Mas além disso, existe algo que chamo de “Regra dos 3”:

    Quando for contratar alguém pra prestar serviços, sempre conte que os dois primeiros que encontrar serão ruins, e o terceiro finalmente vai prestar.

    Às vezes você pode se surpreender, mas dificilmente via se decepcionar seguindo essa regra.

    “E alfaiates homens são melhores para ajustar roupas de homens que alfaiates mulheres?”

    Na minha experiência, dá na mesma. Já conheci bons alfaiates homens e bons alfaiates mulheres. Já conheci alfaiates homens ruins, e alfaiates mulheres ruins. Eu mesmo aprendi alfaiataria com uma professora, que é ótima por sinal.

    Alfaiates mulheres são bem menos comuns, obviamente. E jamais caia na besteira de pensar que uma costureira é alfaiate — a construção de peças de alfaiataria é algo bem específico e que requer treino especializado. Mas não dispense uma alfaiate por ser mulher, confira o trabalho dela que isso vai dizer mais que qualquer coisa.

    Ter um alfaiate de confiança é algo que considero essencial a longo prazo pra se vestir bem. Então que estes conselhos te ajudem a encontrar um… Ou até mais.

  • Reinterpretando

    Reinterpretando

    Eu tava outro dia escutando uma entrevista com alguns caras que trabalham curando e revendendo artigos vintage. Em determinado momento da entrevista, um deles falou um negócio que achei bem interessante e legal de compartilhar com os leitores aqui…

    Ele começou a descrever um modelo de sweater que ficou extremamente popular nos anos 90, por conta de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, que vestiu essa roupa na gravação do show acústico da MTV. Mas a cor específica que ele usava não era tão fácil de encontrar, então virou um achado pra quem tinha. Pro pessoal da época, essa peça ficou marcada como parte integral da estética grunge.

    Porém, o mesmo sweater, como o camarada da entrevista explicou, era também usado pelo “Ol’ Blue Eyes”, Frank Sinatra, na versão original do filme Onze Homens e Um Segredo. Usado obviamente de maneira bem diferente, e por consequência comunicava toda uma outra estética.

    E o ponto que o sujeito da entrevista estava fazendo é que, como hoje em dia não existe mais fora de moda, você pode constantemente reinterpretar essas peças mais antigas e transformá-las em algo novo. Dependendo de como você usa, de como cai no seu corpo, com o quê você decide combinar, pode ser uma referência a diversas coisas diferentes e pertencer a diferentes estilos.

    Pense num simples Converse All Star, por exemplo. Combinando com jeans rasgado, camiseta e jaqueta de couro, é um tênis punk. Usando com calças chino, polo e sweater, é um calçado preppy.

    Quando quiser algo diferente, lembre-se que temos todo um passado pra explorar, revirar, e reinterpretar. Opções não faltam.

  • Não combine com sua namorada

    Não combine com sua namorada

    “Uma mulher não deve desempenhar um papel muito grande nas roupas que um homem veste. Homens que aprenderam a combinar padronagens dominaram algo muito importante. Já que uma gravata é uma das melhores formas de autoexpressão que um homem tem, por que sua esposa deveria escolhê-la?”

    Bill Blass

    Estava lendo um dia sobre curiosidades na Coréia do Sul. Descobri que eles gostam muito de churrasco, como nós (até tem a versão deles de panceta), entre outras coisas. Mas aí vi algo… Peculiar.

    Eu descobri que é hábito de muitos casais combinar as roupas pra sair. Saem ambos de camisetas listradas e jeans pregueados com o mesmo modelo de tênis, por exemplo. Ou ambos usando uma camisa branca por baixo do mesmo tipo de sobretudo cor de areia, com calças de alfaiataria cinzas e oxfords nos pés. Esse tipo de coisa.

    Isso não é “bonitinho”. Isso não é “romântico”. Isso é artificial e forçado — dá até aflição de ver.

    E tem gente que faz coisas similares mesmo aqui no Brasil. Não ao extremo (geralmente) sul coreano, mas fazem. Geralmente parte da namorada, e o cara vai na onda. Acabam ambos combinando as cores, ou os dois usando camisas xadrez, ou outra aberração do gênero.

    Então, se a sua namorada sugerir algo assim, lembre-se que você é o namorado dela, não um acessório.

    Não combine cores.
    Não combine detalhes.
    Não combine tecidos.

    Você pode (e muitas vezes deve) acertar o mesmo nível de formalidade. Mas isso deve ser mais determinado pelo ambiente que vão frequentar e pelos seus próprios gostos. Você não deve ser o cara que foi de jeans num casamento, enquanto seu par está com trajes adequados. Da mesma forma, se você estiver de costume e gravata e sua namorada está de moletom, vai ficar bem estranho.

    E meus pêsames aos sul coreanos.

  • Ridículo ocasional

    Ridículo ocasional

    Isso tem muito a ver com o quê já falei antes sobre cometer erros. Outro dia eu estava explicando pruma amiga sobre o porquê a moda é muitas vezes ridícula. Ela comentou de algum apresentador desses programas de TV, como Project Runway ou Esquadrão da Moda ou similar, e como ela achava o gosto do sujeito bem questionável. E ela tinha razão de apontar uns (vários) defeitos no que o cara vestia.

    Mas falei pra ela que, assim como num desfile de moda, onde você vê umas coisas bem ridículas, o cara precisa exagerar pra chegar em algo legal¹. Você não pode ficar com medo de passar ridículo quando está tendo ideias, ou nunca vai ter ideias legais. O processo criativo é muita tentativa e erro, e quanto mais você errar, mais também vai acertar.

    ¹ Mas sendo sincero, tem acontecido muito de uns tempos pra cá do pessoal da moda esquecer da segunda parte do processo criativo, que é a parte crítica. Isso é em grande parte por conta do quê aconteceu com as publicações de moda e a crítica especializada, mas esse é todo outro assunto.

    As ideias boas e as ideias ruins vem do mesmo lugar, então se você não passar um ridículo ocasional ao longo da sua jornada, jamais vai ser um cara com uma imagem realmente legal. Eu posso falar por mim que já tomei decisões questionáveis na hora de me vestir — antes, durante e depois da faculdade de moda e de começar a trabalhar como consultor.

    E nessas horas eu lembro do Michael Jordan.

    Eu errei mais de 9000 cestas na minha carreira. Eu perdi quase 300 jogos. Vinte e seis vezes eu fui responsável pela cesta que ia vencer o jogo e eu errei. Eu falhei de novo e de novo e de novo na minha vida.

    E é por isso que eu venci.

  • O poder da comunidade

    O poder da comunidade

    Há muitos anos atrás, eu gostava muito de jogos de luta. Teve uma renascença no gênero no fim da década 00, e eu comecei a participar de uma das maiores comunidades online de jogos de luta no mundo.

    Previsivelmente, tendo jogado só com alguns amigos e meu irmão quando crescendo, eu não tinha chance contra o povo dessa comunidade. Não importava o jogo, eles varriam o chão comigo. Mas era divertido mesmo assim, tanto pelas poucas vezes em que conseguia vencer, quanto pela galera com quem eu conversava, e também por tudo que eu aprendia.

    Depois de alguns meses participando lá, eu notei algo quando jogava com meus amigos na vida real: eu dominava completamente nossas jogatinas. E não é como se eles não praticassem e não estivessem jogando, a gente levava bem à sério nossa competição e cada um treinava bastante pra ganhar de todo o resto.

    Mas eu tinha algo que eles não tinham: o poder da comunidade a meu favor. Isso me fez aprender e me tornar muito melhor muito mais rápido.

    E isso é algo que se repete em todo tipo de empreitada, ao redor do globo todo, ao longo de toda a história. “Ferro afia ferro”, como diz o ditado, então se você quer se tornar melhor em alguma coisa, um ótimo primeiro passo é buscar comunidades de entusiastas do assunto. Inclusive quando o assunto é imagem e indumentária.

    Claro que as comunidades não são todas criadas iguais, então aconselho a não se limitar a uma, mas experimentar. Online temos várias opções ótimas em inglês, como os lendários Styleforum e Ask Andy About Clothes. Em português, infelizmente, ainda não temos nenhuma opção tão boa. Mas há opções razoáveis ao menos.

    Então para “subir de nível” mais rápido, fica essa sugestão: encontre algumas comunidades e faça parte delas.