Isso foi inspirado em algo que tenho visto recentemente, que é o povo usando roupas “oversized”, que na verdade é só um termo besta pra falar que a roupa tá muito grande pra você. É uma cópia da moda dos anos 90 (por que não dá pra ser original nem na hora de ser tosco?), e fica bem em praticamente ninguém, em absolutamente situação nenhuma.
Agora, eu até tenho uma série chamada vítimas da moda, e depois vou até fazer um artigo sobre essa moda em particular, mas achei importante falar antes de tudo o seguinte:
Tanto faz se tá na moda.
Sério, tanto faz.
A verdade é que grande parte do que “está na moda” não vai te cair bem (e uma boa parte não vai cair bem em absolutamente ninguém, sendo sincero). Então se perguntar se algo “tá na moda ou não” é um questionamento besta e um desperdício do seu tempo. E de qualquer maneira, como falei antes, não existe mais “fora de moda”, então isso faz menos sentido ainda.
No fim das contas, toda moda vai passar. Então busque aquilo que fica bem em você, independente de estar ou não “na moda”.
Uma discussão sobre sapatos outro dia levantou esse ponto: você fica com dó de usar suas roupas legais?
É algo que acontece com muita gente, especialmente quem é mais perfeccionista. Aquele par de sapatos favorito que fica só guardado na sapateira, aquela jaqueta que quase nunca sai do armário por medo de acontecer alguma coisa, ou aquela camisa pra “ocasiões especiais” que estranhamente nunca acontecem.
Mas aí você faz o quê no lugar? Usa roupas que não gosta tanto. Se veste “mais ou menos”.
E se ao invés de ter suas “roupas legais” e suas “roupas mais ou menos”, você só tiver as “legais”?
“Mas isso vai ficar caro!“, você diz. Bem, não se você minimizar seu guarda-roupa. Comprando menos, você pode gastar seu dinheiro apenas em roupas que gosta e usa. Então ao invés de ter 1 jaqueta “legal” e outras 7 “mais ou menos”, você pode ter 3 jaquetas realmente boas. Cada uma sai mais caro, sem dúvida, mas você vai ter 3 opções que realmente gosta e usa sempre, ao invés de 1 legal que sempre tem medo de usar e outras 7 frustrantes que são as que acaba realmente vestindo.
Além do mais, se você desapegar um pouco da perfeição, vai notar que um arranhão, um fio puxado, ou outro defeito pequeno não arruína sua roupa…
Este conceito japonês de artes marciais é uma maneira ótima de enxergar as regras/guias da indumentária masculina. Consiste em três etapas pelas quais passamos em qualquer coisa que estamos aprendendo.
Shu (守): Obedecer
Se refere a maneira que, no começo de qualquer prática, precisamos de formas, regras, guias, etc. Isso te dá estrutura e evita que cometa erros comuns; você está aprendendo os fundamentos. No começo, todos somos absolutamente perdidos, afinal.
Ha (破): Desapegar.
Quando conhecemos mais, podemos começar a improvisar um pouco. Superamos (ao menos em parte) nossa síndrome do impostor. Você não está mais se fantasiando, você realmente se veste desta forma. Sua imagem tem mais naturalidade, e você tem menos medo de arriscar, está gradualmente se desapegando das regras (mas ainda lembra delas pra não cometer gafes).
Ri (離): Abandonar.
Quando você tem plena confiança e é dono e sua imagem, você não pensa mais nas regras: elas já estão tão internalizadas que não precisa. E você entende inconscientemente a razão destas, de forma que pode quebrá-las com segurança e ainda assim causar uma ótima impressão. Você atingiu um nível de maestria (dentre muitos).
E é fácil de ver isso em prática: a maior parte dos homens considerados bem vestidos, estilosos, e outros adjetivos que se referem a sujeitos com boa imagem, quebram algumas regras aqui e ali — mas eles sabem como fazê-lo. Eles não ficam constantemente pensando no quê é “certo ou errado”, eles sabem intuitivamente.
Um dos exemplos triunfantes disso era “Gianni” Agnelli, o ex-líder da Fiat e considerado um dos homens mais bem vestidos dos tempos modernos. “O advogado”, como era conhecido, costumava quebrar regras constantemente, mas fazia com tamanha naturalidade e maestria que, não só ninguém criticava, mas muitos o imitavam depois.
É como dizia um cara aí…
Conheça as regras como um profissional, para que possa quebrá-las como um artista.
Tenho recebido muitas perguntas sobre isso ultimamente. Então aqui vai um questionário ultra-rápido pra saber quando você pode ou não usar uma gravata:
Se respondeu sim a estas 6 perguntas, parabéns: Você pode vestir uma gravata numa boa!
E de bônus, aqui vão os truques para usá-la sossegadamente:
Aprenda um nó que não seja o Windsor.
Deixe uma covinha no meio do nó, sempre.
Deixe a gravata chegar até o cós da calça quando você estiver de pé, de postura reta.
Coloque um prendedor de gravata na metade da distância.
Seguindo isso, você pode usar esse acessório tão útil para deixar seu visual diferente em diversas ocasiões. Não se acanhe de usar quando for sair de noite com os amigos ou numa festa: 90% das pessoas vão elogiar sua escolha e dizer que mais homens podiam se arrumar melhor, vai por mim.
Só não vai me inventar de combinar a gravata com o lenço de bolso…
¹ Golas estruturadas são feitas com entretela. Sem entrar em termos muito técnicos, você vai notar que a gola é mais rígida que o resto da camisa, as vezes sendo dura que parece plástico. ² Camisas de rugby são aquele modelo de malha, que é basicamente uma polo com mangas compridas. Assim como polos, elas são esportivas e não combinam com gravatas.
Sem brincadeira, tem gente forçando pra que isso seja moda. Faz a gente dar razão pro Oscar Wilde quando ele disse que “Moda é uma forma de feiura tão intolerável que temos que mudá-la a cada seis meses”. Mas enfim…
Existem poucas coisas que todo mundo concordava universalmente. Não usar meias brancas quando você não tá jogando bola ou vestindo calças brancas¹ costumava ser uma. Mas alguém nos fóruns de roupa masculina escavou alguma foto do Cary Grant, Fred Astaire, ou outro ícone de estilo que esqueci quem foi, usando meias brancas, e agora tem uma galera agindo como se isso não fosse mais uma péssima ideia. Mas o fato de alguém que você admira ter feito algo idiota não torna esta coisa inteligente, só torna a pessoa admirada humana e portanto dada a erros.
Então, meias brancas. Por quê são uma ideia ruim?
A parte mais óbvia é a prática: branco mancha MUITO. Uma camisa ou outra peça branca, tudo bem — eu mesmo uso mais camisas brancas que de qualquer outra cor. Mas meias estão bem próximas ao chão — e às vezes diretamente nele — o quê vai deixá-las bem sujas bem rápido. E por incrível que pareça, o visual meias encardidas não favorece ninguém. Quem diria, né?
Outra questão é a função original das meias. A razão de ser delas é esconder o pedaço de canela que aparece entre o fim das calças e o começo dos sapatos quando você está se movimentando, ou sentado, ou mesmo parado de pé, dependendo da barra da calça e do modelo dos sapatos. Por isso a “regra” tradicional de que suas meias devem ser da cor da calça ou levemente mais escuras: gera uma continuidade discreta, que é bem agradável visualmente e alonga suas pernas, te deixando mais alto. Alternativamente, a regra diz, você pode usar na cor dos sapatos, mas é uma escolha inferior.
É claro, grande parte dos aficionados (incluindo eu) gostam de fazer diferente, usando meias que se destacam um pouco, talvez com alguma padronagem legal, ou cores contrastantes com a calça (o clássico sendo meias bordô com uma calça azul marinho e sapatos marrons). Alternativamente, se estiver fazendo calor, você pode simplesmente não usar meias. É a história de conhecer as regras para saber como quebrá-las.
Quebrando regras de uma maneira interessante.
Então, resumindo, meias brancas:
Mostram toda a sujeira que gruda nelas.
Não são discretas ou sutis e não dão continuidade às pernas.
Tem o stigma social de ser a escolha do cara que não sabe se vestir, ao invés de alguém que conhece as regras pra quebrar com maestria.
Então não seja vítima de mais uma moda idiota. E como disse um amigo meu:
“Só o Michael Jackson podia usar meias brancas.”
¹E meias creme ou em cores pastéis vão ficar melhor de qualquer forma.