Category: Autoimagem

  • Mudança de hábito

    Mudança de hábito

    Não resisti o trocadilho na foto. Mas pelo menos não usei o filme da Whoopi Goldberg, né? Okay, vamos ao assunto de hoje…

    Tudo que fazemos no dia-a-dia são hábitos. Você escovar os dentes depois de comer é um hábito. Você tomar banho é um hábito. Você se vestir da maneira que se veste é um hábito. E uma dificuldade encontrada frequentemente por quem está mudando de imagem, é a tentação de recorrer às roupas e à imagem antiga — a tentação de reverter a velhos hábitos.

    Você bem que podia usar aquele par de botas novas
    …mas já tá acostumado com o tênis de corrida, então vai ele mesmo.
    Dá pra vestir aquela camisa que mandou ajustar pra te servir perfeitamente
    …mas a camiseta de banda tá na frente e você foi pra festa como sempre ia.
    Tem aquela calça legal de sarja vermelha que comprou e quer estrear…
    …mas jeans é jeans, né?

    Como quem já leu O Poder do Hábito sabe, seus hábitos são como uma trilha numa estrada de terra, que vai ficando mais marcada cada vez que você passa por ela. Depois de um tempo, fica difícil de não seguir por este caminho — ele é tão mais fácil e conveniente que a mata fechada. É uma das razões pelas quais é difícil se livrar de vícios: você não tem como desfazer a trilha, só o tempo pode cuidar disto. Mas…

    Você tem como estabelecer um novo hábito. Começar uma trilha nova e deixá-la mais atraente — ou ao menos atraente o bastante ao ponto em que você não precisa usar tanta força de vontade pra seguir nela. A dúvida é: como?

    Não é o assunto primário do blog ensinar como estabelecer hábitos novos, mas posso dar um resumo simples aplicado a roupas. Então aqui vão 3 passos simples (e 1 bônus) para estabelecer um novo hábito de vestir:

    1. Torne o hábito antigo difícil de executar. A forma mais simples é colocando suas roupas antigas bem no fundo do armário e fora de acesso.
    2. Torne o novo hábito algo óbvio e fácil. É o contrário do passo anterior: você coloca as roupas novas sempre mais na frente e acessíveis. Deixar tudo preparado no dia anterior é melhor ainda, assim quando você estiver na correria da manhã, é fácil pegar e vestir as roupas novas.
    3. Faça questão de usar roupas que gosta. Se você reformulou seu guarda-roupa, use suas novas peças favoritas de início. Estabelecer hábitos é um processo emocional, então quanto melhor você se sentir, mais fácil fica.
    4. (Bônus) Comemore assim que executar o hábito novo. Soa engraçado, mas funciona! Escute alguma música de vitória (trilha sonora do Rocky sempre funciona), ou ligue o hábito a algo prazeroso da sua rotina, como tomar seu café, ou algo assim. Mas lembre-se de fazer isto logo em seguida do hábito. Assim seu cérebro vai associar a sensação boa ao novo hábito.

    Mudar a imagem é um processo, mas sempre podemos deixá-lo mais fácil, né? Afinal, você tem mais coisas pra se preocupar.

  • Mudanças

    Mudanças

    Vamos fazer um exercício mental: Pense em momentos cruciais da sua vida. Períodos de mudança, de crescimento, até de grandes decepções. O quê consegue achar em comum durante, ou logo após, estes?
    Pense também em filmes, séries, quadrinhos ou livros, etc. Quando um personagem passa por uma grande mudança, atinge um novo patamar, passa por uma grande tragédia, etc, o quê acontece?

    Se respondeu algo como “o visual fica diferente”, você entendeu a ideia de hoje.

    Nossa imagem é uma forma de comunicação, e entre outras coisas que comunicamos, uma mudança pessoal é uma das mais importantes. Na minha experiência, homens tendem a fazer grandes mudanças em certas situações especiais, que podem ser divididas em quatro aspectos principais:

    • Profissional/financeiro: nova carreira, um novo cargo no trabalho (ou a busca por um, após um período de estagnação) a transição para um novo local de trabalho, etc.
    • Afetivo/sexual: namoro novo, ou término de um relacionamento, noivado/casamento, frustração com a vida amorosa e esforços para melhorar esta, etc.
    • Social: mudança para uma nova cidade, conversão a uma religião nova, adoção de um novo hobby, busca por novos círculos sociais mais positivos, etc.
    • Satisfação pessoal: a necessidade de mudar por sentir que sua vida “estacionou”, a busca por melhora pessoal, melhora de autoestima, um esforço de resolver frustrações com sua condição de vida atual (no fundo, este é o ponto ao qual os outros aspectos levam).

    E você pode estar se perguntando “Tá, e daí? Em quê que saber disso me serve?”. Bem, caro leitor, isto te serve da seguinte forma:
    Da mesma maneira que uma mudança na sua vida pode acarretar uma na sua imagem, o oposto também ocorre. É similar àquela ideia de que estar feliz leva a sorrir, mas sorrir leva a estar feliz (doido, eu sei, mas tem ciência por trás disso).

    Então, mudanças físicas, como vestir roupas diferentes, podem levar a comportamentos e emoções diferentes. Sabendo disto, você pode intencionalmente mudar sua imagem para atingir suas metas. Isso é bem expresso pela antiga frase “Se vista para o emprego que quer ter, não para o quê tem”. Então comece a se vestir para a vida que quer atingir.

    E este é o ponto todo, afinal: atingir suas metas, viver sua vida bem. As roupas são só um meio pra chegar nisto.

  • Síndrome do impostor

    Síndrome do impostor

    Há uns meses atrás, eu escutei uma entrevista com o músico e cineasta Rob Zombie. Durante a entrevista, ele falou que sofre do que chamam de “síndrome do impostor”.
    Este fenômeno é aquela sensação de que você não é tão bom quanto os outros dizem que você é. No exemplo dele, apesar de ser um músico famoso e bem sucedido, ele sempre tem um certo medo de um dia as pessoas descobrirem que ele não é tão bom assim.
    E isto acontece com todo mundo, com algumas pessoas sendo mais afetadas e por mais tempo, enquanto outras superam mais rápido.

    E o quê isto tem a ver com a sua imagem? Muita coisa, na verdade. Façamos um experimento mental. Pense na última vez que cortou o cabelo (mesmo que não tenha mais, provavelmente vai lembrar da experiência, ou pode substituir pela barba se tiver uma).

    Você enrolou “um pouco” pra ir no barbeiro. Tinha um milhão de coisas pra fazer antes e isso não era tão importante de qualquer maneira. Bem, não era até seu cabelo começar a incomodar demais. Então você finalmente foi dar um trato — e pediu pra deixar bem curto (pra não ter que voltar tão cedo). Surpreendentemente, quando terminou, ficou até feliz com o resultado…

    Até a manhã seguinte. Quando se viu no espelho. E não se reconheceu.

    Essa sensação ruim, na verdade, é o seu cérebro tentando reconciliar a sua autoimagem com o quê está vendo, e tendo dificuldade nisso. É muito diferente do que lembrava!
    Mas, com o passar dos dias, você vai lentamente se acostumando. Depois de uma semana provavelmente, já está normal de novo. Você se enxerga do jeito que vê no espelho.

    …até o próximo corte, é claro.

    Então, como vimos, isto é comum a todo mundo, e está ligado à sua autoimagem. Quando você muda suas roupas e como se apresenta, você pode ficar com certo medo de descobrirem que você está “fingindo” ser um cara bem vestido. Pode não se reconhecer inicialmente.
    Mas, assim como com o corte de cabelo, a cada dia fica um pouco mais normal. Até que chega um dia em que, você se vestir como antigamente se torna algo estranho (e assim como no corte de cabelo, só se dura até você decidir ousar um pouco mais).

    Então não tenha medo de mudar (fácil dizer, eu sei, eu sei…). Só sempre mantenha a perspectiva que, no começo é estranho e desconfortável, mas depois tudo melhora. Ou, como eu costumo dizer: Tudo dá certo no fim. Se não deu certo ainda, é porque ainda não acabou.

  • Metamorfose

    Metamorfose

    Digamos que você tem uma habilidade mágica. Você é uma criatura mítica sem forma definida, que toda manhã pode escolher a própria aparência. Você só pode fazer isto uma vez por dia, porém. Neste caso, você acha que no dia a dia escolheria:

    • a) Parecer pros outros imponente, competente e atraente (e pra si também), ou;
    • b) Parecer insignificante, inepto e repelente?

    A não ser que queira fazer alguma espionagem e passar despercebido, você provavelmente vai sempre escolher a alternativa “a”. Ela é claramente melhor.

    Bem, acho que é óbvio onde estou chegando com a história, mas só pra ficar claro: você já tem esta habilidade. Num nível um pouco menos poderoso talvez (mas mais do quê muitas vezes pensamos), mas tem sim. Essa habilidade mágica é se vestir.

    Então, por que não escolher uma forma favorável todo dia?

  • Cognição indumentária

    Cognição indumentária

    Eu já falei outras vezes sobre o contexto social da sua imagem: quem você quer impressionar, o quê está comunicando, sobre se conformar ou se rebelar contra o status quo, etc. Isso tudo é indispensável. Mas é essencial também considerar como as roupas afetam você mesmo.

    Em 2012, dois cientistas realizaram um estudo a respeito do efeito que as roupas tem sobre quem veste. Chamado em inglês de enclothed cognition¹ (traduzido aqui como cognição indumentária) este estudo demonstrou algo interessante…

    Em três experimentos, participantes aleatoriamente selecionados foram colocados pra resolver alguns testes. O objetivo foi avaliar se o uso de um jaleco de laboratório afeta a performance — aqui medida como atenção a detalhes — dos participantes.

    Em todos os três experimentos, a resposta foi um claro sim: vestir o jaleco de laboratório melhora a atenção. Conseguiram determinar também que não era só a presença do jaleco, mas o ato de vesti-lo que causa o efeito. Porém, o fato mais curioso foi o quê o segundo experimento demonstrou.

    No segundo experimento, eles separaram 3 grupos:

    • 1 grupo vestindo jalecos de laboratório
    • 1 grupo vestindo jalecos de pintor
    • 1 grupo que só olhou pro jaleco de laboratório

    O resultado, como já disse, foi que os de jaleco de laboratório se saíram melhor — consideravelmente melhor. Mas o truque? Os jalecos “de laboratório” e “de pintor” eram os mesmos. A única diferença foi como os cientistas identificaram para os participantes.

    Este fenômeno acontece por conta de associações que absorvemos durante a vida através de nossa cultura. Os jalecos de laboratório fazem a pessoa se sentir um cientista e se comportar como tal (mais atenciosamente, mais racionalmente). Um costume faz você se sentir mais poderoso, no controle e assertivo. Etc.

    Isso demonstra como suas roupas podem literalmente te transformar. Então, vista-se como quer ser, e isso vai facilitar sua transformação (indo com calma, é claro). O clichê de “vista-se pro cargo que quer, não pro quê tem” se mostra verdadeiro.

    Mas lembre-se que o significado não é completamente fixo. Assim como o jaleco “de laboratório” foi melhor que o “de pintor”, você pode criar associações positivas ou negativas para suas roupas — além daquelas que já absorveu culturalmente. Então, ao invés de pensar “garçom” quando vestir um costume, pense “executivo”.

    Ou “agente secreto”. O quê for mais útil, é claro.

    ¹Journal of Experimental Social Psychology, Volume 48, Issue 4, July 2012, Pages 918-925: Enclothed cognition