Category: Peças

  • Preconceito indumentário

    Preconceito indumentário

    Sabe que durante muito anos eu não gostava de camisas polo? Elas se tornaram peças do uniforme de alguns grupos quando eu era adolescente. Eu sempre fui muito individualista e não queria de jeito nenhum pertencer a nada. Nisso acabei desenvolvendo esse preconceito com a peça.

    Isso durou anos. Até que, um dia, peguei pra assistir o primeiro filme do James Bond: Dr. No.

    Pra quem não viu, ele é diferente do resto, meio que um protótipo do resto da franquia. Mas o figurino é ótimo logo de cara: na sua primeira cena, Sean Connery veste um conjunto black tie com gola xale e punhos virados, falando sua (agora clássica) introdução “Bond. James Bond“.

    Mais pra frente, tem este trecho da foto, em que ele está numa praia tropical vestindo uma camisa polo e calça chino.

    “Hm…”, pensei comigo. “Sabe que até é um visual bem legal?”.

    E num instante, morreu meu preconceito com a peça. Eventualmente eu comprei algumas, e percebi que ficava melhor nelas do que em camisetas — a gola ajuda a disfarçar meu pescoço longo. Elas acabaram se tornando a malha padrão no meu guarda-roupa, pra quando estou sossegado em casa ou em alguma situação casual (mas ainda prefiro camisas).

    Todos nós temos alguns preconceitos assim com roupas. Por essas é importante sempre expandir suas referências.

    Não gosta de calça com pregas? Por quê? Já experimentou uma? E talvez uma jaqueta de veludo funcione bem pra você. Ou uma camisa henley? Já viu umas fotos de gente usando bem? Tem também aquela cor que nunca usou antes…

    Se você nunca questionar, vai perder algumas ótimas opções. Saia (um pouco) da zona de conforto e expanda seu vocabulário.

  • Lenços de bolso

    Lenços de bolso

    Se um dia você olhar fotos dos anos 50 pra trás, vai provavelmente notar uma coisa: quase todos os homens usavam um lenço no bolso do peito do casaco. Era um hábito tão comum que o nome deste bolso acabou se tornando “bolso de lenço”. O hábito descende do costume de carregar um lenço pra fins práticos, como assoar o nariz ou limpar o suor da testa.

    Mas infelizmente, o lenço de bolso foi sendo deixado de lado pela maior parte da população, lá pelos anos 70. E isso é especialmente triste, pois seu uso é uma das formas mais simples que qualquer homem possui para melhorar sua imagem. Como eu disse anteriormente ao falar de meias: as outras pessoas notam estes detalhes.

    Quando você coloca um lenço no bolso, você instantaneamente projeta mais autoridade com a sua imagem. Você sabe o quê está fazendo, e você decidiu conscientemente sua imagem. Nas palavras do diretor Guy Ritchie: “Assim que você coloca um lenço de bolso, você possui a jaqueta: é sua ideia (usá-la), não a ideia de outra pessoa.”

    Sendo assim, deixo aqui a sugestão: sempre que usar um casaco de alfaiataria, coloque um lenço no bolso dele. Não precisa ficar se preocupando muito com dobras elaboradas, na maior parte das vezes, o lenço fica mais bonito se for colocado casualmente, como na foto. Se puder usar um de linho ou seda, ótimo. Mas se só o orçamento por enquanto só permitir algodão, ou mesmo poliéster, é um começo já.

    Só lembre-se de jamais usar um lenço do mesmo tecido que sua gravata (ou qualquer outra peça, obviamente).

  • Conselhos sob medida

    Conselhos sob medida

    Dependendo de onde você mora e os círculos que frequenta, você pode ter a impressão de que roupas sob medida são uma coisa muito cara e só pra quem vive no luxo, ou nem tem ideia de que existe esta opção. Como alguém que tem, por necessidade, experiência no assunto, neste post vou aconselhar se você deve buscar este caminho, e se sim, fazer algumas recomendações de como proceder.

    Primeiramente: roupas sob medida não são tão práticas. Mesmo um alfaiate muito bom vai ter que fazer algumas provas antes de terminar a peça, sem falar que a agenda deste pode estar cheia. Muitos homens conseguem nas lojas roupas que servem bem o bastante e, com alguns ajustes, podem servir muito bem. Sendo assim, só sugiro este caminho para quem tem o corpo muito fora do comum (meu caso), onde roupas prontas quase nunca servem bem, mesmo ajustadas.

    Mas talvez você não precise de roupas sob medida, só realmente quer ter algo que serve perfeitamente no seu corpo. Muitos homens que entram de cabeça na jornada de melhora da imagem acabam pegando gosto pela coisa, e as roupas feitas sob medida são o ápice do #menswear.

    Então, se você se encaixa em um dos dois casos acima e vai procurar roupas sob medida, aqui vão alguns conselhos:

    O primeiro é: comece pequeno. Antes de mandar fazer um terno completo com tecido importado num alfaiate caro, mande fazer algumas calças simples em algum calceiro ou alfaiate próximo a você. Conversar com quem faz as roupas e comunicar o quê você quer, além de saber o quê querer, é algo que você só aprende na prática. Mais tarde, você pode mandar fazer algumas camisas e eventualmente uns casacos.

    Meu segundo conselho: escute o profissional. Ele tem pelo menos algumas décadas a mais que você de experiência no assunto. Além do mais, fazer roupas não é um processo científico, é mais uma arte. Cada profissional vai ter um estilo próprio, seus hábitos, métodos e preferências. Muitas vezes, você pode descobrir que determinada pessoa é ótima em fazer alguma peça, mas não tanto em outras.

    Terceiro conselho: descreva da forma mais clara possível o quê quer. Depois de conversar com ele e anotar tudo desta conversa, faça instruções escritas (ou mesmo desenhadas, se possível). Parece exagero, mas não é. Há uma boa chance de pequenos detalhes serem esquecidos, e na hora que você buscar sua calça de frente lisa, você descobre que colocaram algumas pregas ali, porque é o comum na casa.

    E por último: se conhecer pessoas que já usam roupas sob medida, observe as roupas destas e peça recomendações. Se algum colega de trabalho ou amigo tiver roupas do jeito que você quer, grandes chances do alfaiate trabalhar do jeito que procura.

    Só termino aqui com um aviso: roupas sob medida são um passo do qual raramente tem volta…

  • Meias

    Meias

    No mundo da indumentária masculina, é comum dizer que é tudo sobre detalhes. Diferente de roupas femininas, as nossas costumam se diferenciar nas pequenas coisas e pender pro lado da discrição. É o lenço de bolso, a pulseira do relógio, o prendedor de gravatas, ou, no assunto em pauta, as meias.

    Algo tão simples, mas que faz uma diferença desproporcional, as meias certas podem deixar o seu visual tão mais interessante, e é algo que todo mundo nota, mesmo que você não perceba. Mas primeiro de tudo, algumas guias:

    Segundo a tradição da roupa masculina, meias devem ser da mesma cor das calças ou um pouco mais escuras. A lógica por trás disto, é que as meias devem servir como uma continuação visual das calças. Isto funciona muito bem, é uma alternativa segura e fácil de aplicar, e particularmente útil a homens mais baixos, pois alonga levemente a silhueta.

    Mas, como dito anteriormente, indumentária masculina é sobre detalhes, sendo assim, uma outra opção é usar meias que se destacam. Sejam meias com padronagem, ou uma cor que contrasta com a calças ou sapatos, é o tipo de toque que eleva o visual. É a alternativa que muitos homens mais experientes no vestir usam costumeiramente.

    Há tantas opções interessantes no mercado, então que tal aposentar as brancas?

  • Cabines e ajustes

    Cabines e ajustes

    No fim dos anos 40, as forças aéreas dos EUA tinham um sério problema com acidentes envolvendo caças aéreos. Descobriram que a principal causa era a dificuldade dos pilotos manterem o controle dos aviões por conta das dimensões da cabine.

    Agindo de forma aparentemente lógica, a solução foi medir os mais de 4000 pilotos em 140 diferentes dimensões consideradas relevantes, incluindo coisas como comprimento do dedão e distância dos olhos do piloto pras orelhas dele. Depois foi só calcular a média de cada dimensão e fazer uma nova cabine, o quê supostamente reduziria o número de acidentes. Todo mundo tinha certeza de que ia funcionar.

    Todo mundo menos um jovem cientista, um tenente Gilbert S. Daniels. Envolvido no projeto, ele foi contra o consenso e fez a pergunta: quantos pilotos realmente se encaixam na média?

    A resposta surpreendente, foi que ninguém se encaixava. Todo mundo escapava, um pouco ou muito, em várias das dimensões. A descoberta que fizeram foi que, se você projeta algo para servir numa média, você projeta para servir em absolutamente ninguém (ou, sendo otimista, menos de 1% da população).

    E o quê isso tem a ver com o assunto do blog? Se pergunte: se um dos maiores exércitos da história não conseguiu fazer algo que serve em todo mundo, você acha que uma marca de roupas vai conseguir?

    A solução que eles acharam foi fazer cabines ajustáveis. Por sorte, nossas roupas também são. Então, quando comprar algo que além de jeans e camiseta, que tal perguntar se a loja oferece serviço de ajuste? E se não oferecerem, hora de conhecer algum alfaiate de confiança pra levar essas roupas (ou quem sabe fazer sob medida), não acha?