Author: vinicius.b.gennari

  • Cegos guiando cegos

    Cegos guiando cegos

    Outro dia, um amigo meu compartilhou comigo uma foto da qual estava rindo. Era a foto de um bar, onde tinha um grupo de homens vestidos todos exatamente da mesma forma: shorts, camisa polo, algum “sapatênis” (acompanhado obviamente de meias brancas) e o mesmo modelo de óculos escuros.

    Nisso entramos numa conversa sobre o estado do estilo dos homens brasileiros, e eu expliquei pra ele que isso é o resultado de cegos guiando outros cegos.

    Acontece assim: o sujeito decide que quer se vestir melhor. Mas ele não sabe por onde começar, então das duas uma:

    • Ou ele comete o erro de perguntar para mulheres (“Afinal, eu quero atrair mulheres, então elas vão saber me dizer como fazer isso… Certo?“);
    • Ou comete o erro de perguntar pros seus amigos… Sem se ligar que estes entendem tanto quanto ele mesmo.

    Eu até usei de exemplo um grupo de discussão, que eu de vez em quando dou uma conferida, e o grande problema lá que acaba gerando cenas como esta da foto…

    Sempre tem algum camarada postando sua foto com o look e perguntando pro grupo “O quê acham?”. Os comentários que seguem são todos variantes de “Top!”, “Brabo!”, “Monstro!”, ou até um “Gostei muito!” (quando tem alguém se sentindo particularmente eloquente). E quem comenta, invariavelmente é um sujeito que entende tão pouco do assunto quanto o primeiro — como suas próprias fotos mostram. E assim fica todo mundo confortável nessa massagem de ego mútua, sem nunca evoluir.

    Então pense: se você quiser aprender a tocar violão, ou a trabalhar com marcenaria, ou a cozinhar, ou o quê for, você vai:

    a) Perguntar pro seu amigo que também não sabe, ou…

    b) Vai procurar um entendido no assunto para ser seu professor?

    Então por quê fazer diferente com sua imagem?

    ¹ Sapatênis é só um nome dado pra tênis feios. Aquilo é tão sapato quanto uma camisa de mangas curtas é “social”.

  • Sprezzattura

    Sprezzattura

    É capaz que você já tenha ouvido (ou mais provavelmente, lido) este termo nos círculos de discussão de indumentária e estilo masculinos. E é provável que ficou sem entender o quê raios significava, e lendo na Wikipedia ficou ainda mais confuso pensando “o quê diabos isso tem a ver com roupa mesmo?”. Então vamos começar definindo a palavra.

    O quê é sprezzattura?

    O primeiro registro que temos da palavra vem do O Livro do Cortesão, de Baldassare Castiglione, publicado em 1528. O livro em questão é um guia de como ser um bom cortesão e sobreviver no jogo de aparências das cortes italianas da Renascença, e neste o autor define sprezzattura como:

    “Uma certa indiferença, para ocultar todo artifício e fazer o quê quer que você faz ou diz aparentar sem esforço e como se você nem tivesse pensado no assunto”.

    Em outras palavras: sprezzattura é quando você faz algo difícil como se fosse fácil. Pense num artista tocando música sem nem olhar pro instrumento, ou num jogador de basquete fazendo uma enterrada de costas só porque deu vontade. E no caso, é quando alguém se veste de uma maneira bem interessante como se só estivesse vestindo jeans e camiseta, como se isso fosse o normal pra ele.

    Mas agora você pergunta “Tá, mas por quê eu deveria me importar?”.

    Vantagens

    Quando você faz algo complexo, sempre corre o risco de parecer artificial, de parecer falso, e por consequência causar uma sensação ruim nos outros que te vêem, o quê diminui qualquer vantagem social que sua imagem poderia te trazer. Você transparece um ar nervoso e inseguro — características que não ajudam ninguém.

    Mas quando você faz isso com naturalidade, o oposto acontece: o impacto da sua imagem é ainda mais forte, não parece que você está vestido de forma elegante, parece que você simplesmente é elegante. Além disso, você ganha um ar sobrehumano, como se fosse capaz de fazer ainda mais se decidisse se esforçar de verdade.

    Ok, tudo isso parece legal, mas como você coloca em prática?

    Sprezzattura na prática

    É mais simples do quê parece: o truque é abraçar as imperfeições e naturalidade. Por exemplo:

    Você decide usar uma gravata borboleta. Ao invés de cometer o erro de comprar uma de nó pronto, que absolutamente simétrica e perfeita (e portanto artificial), você compra uma legítima e faz o nó você mesmo. E ele fica um pouquinho torto. Ótimo — perfeito em sua imperfeição. Seu nó tem um toque humano e portanto natural.

    Ou digamos que você pegou um lenço pra usar no bolso do casaco. Ao invés de fazer uma dobra complexa e geométrica, você só dobra ele num quadrado pequeno e deixa um pouquinho pra fora. Ou até, coloca o lenço amassado dentro do bolso. Você (teoricamente) nem passou tempo pensando no assunto, só fez e pronto.

    Ou ainda, você decide usar uma calça de linho. Linho sendo linho, sua calça fica amassada. Isso dá a ela um ar natural e faz parecer que você não está tão preocupado assim — não está fazendo tanto esforço pra impressionar. E isso, por si só, acaba impressionando.

    Mas então é só me vestir sem me esforçar?

    Não exatamente. Lembre-se: é fazer algo incrível sem esforço aparente. Ninguém acha impressionante o cara que tenta dar um mergulho e cai de barriga, não importa se ele fez isso sem nenhum aparente esforço. Mas o outro que pula de costas e faz um mergulho perfeito — aí sim é impressionante.

    Então faça um esforço, mas não esfregue na cara dos outros. Isso vai impressionar mais que tudo.

  • Se vestindo pro emprego

    Se vestindo pro emprego

    Tem uma história muito legal no livro I Am Dandy, que estava relendo outro dia. O autor Nathaniel Adams reconta de quando ele estava na faculdade de jornalismo, e um belo dia, ele e os colegas foram escutar uma palestra do lendário repórter e escritor Gay Talese.

    Como era de se esperar, a maioria da turma esta vestida como a maioria das pessoas se vestem numa faculdade americana hoje em dia: variantes de jeans e camiseta, ou calça de corrida e camiseta, ou chinos e uma camisa casual, etc.. Exceto pelo autor, que usava um costume e gravata. Durante a palestra, o Sr. Talese disse:

    “Vocês tem que se vestir pro emprego, não se vestir como se precisassem de um emprego.”

    Nisso ele apontou pro autor e completou:

    Ele entende!

    Anos mais tarde, Nathaniel Adams saiu entrevistando homens elegantes pro seu livro, e na lista estava Gay Talese, que ele não via mais desde aquela palestra.

    Durante a entrevista, o autor relembrou desta história, e comentou que tinha sido uma grande influência para o rumo que ele seguiu eventualmente.

    Eis que ele descobriu, pra sua surpresa, o Sr. Talese nunca tinha esquecido daquele dia também.

    Executando mudança

    Síndrome do impostor de lado, a realidade é que adotar uma imagem diferente é uma maneira de fazer mudanças acontecerem na nossa vida. Tem até a cena clichê de filmes e séries em que um personagem decide mudar radicalmente e pra simbolizar isso vai e corta o cabelo (geralmente é uma mulher com cabelo comprido, que torna a coisa mais impactante). E essa cena é tão comum por uma boa razão:

    O nosso inconsciente vai ter que se ajustar à nova autoimagem e desta forma mudar também. Como falei no artigo sobre cognição indumentária, você pode melhorar sua performance só trocando de roupas. Mas aquele estudo falava sobre o efeito imediato e agora: pense a longo prazo.

    E todos nós buscamos melhora nos diferentes aspectos de nossas vidas, um dos principais sendo o profissional. Então por quê não se vestir um pouco melhor? Você tem muito mais a perder se fizer o contrário.

    Ou, como diz o ditado:

    Vista-se para o emprego que quer, não para o que você tem.

  • Relíquias indumentárias: Camisa Winchester

    Relíquias indumentárias: Camisa Winchester

    Você provavelmente já viu uma vez ou outra este modelo de camisa — não é algo tão obscuro quanto uma calça Hollywood por exemplo — mas é outra daquelas peças que é bom relembrar e resgatar.

    O quê é?

    Uma camisa Winchester é algo bem simples na verdade: é uma camisa com gola e punhos contrastando com o resto do corpo. Tradicionalmente, a gola e o punho são brancos, e o mais comum é o corpo da camisa ser listrado, mas camisas Winchester de cores sólidas existem e são muito legais também. E tem alguns casos raros em que os punhos não são contrastantes também.

    Por quê usar?

    O mais óbvio é que é algo diferente e legal. Mas além disso, camisas Winchester trazem ao mesmo tempo interesse visual e seriedade. Se você quer parecer levemente mais formal, elas vão te servir bem.

    Sua maior seriedade vem em grande parte de suas origens: na era Vitoriana, as golas e punhos das camisas eram removíveis, e portanto raramente eram de outra cor que não branca (pra poder combinar com qualquer corpo de camisa que você fosse usar).

    Outra coisa é que este tipo de camisa pode ajudar é a “quebrar” a aparência de homens muito altos e magros: a gola e os punhos contrastantes criam divisões que fazem você parecer menos esticado.

    E por último, uma camisa Winchester é muito mais fácil de combinar com suas gravatas: a gola branca vai casar com quase qualquer cor e padronagem que decidir e formar uma seta diretamente pro seu rosto.

    Como usar?

    Como comentei acima, este modelo de camisa tem um ar mais formal. Inclusive, é um dos modelos aceitos no dress code formal diurno. Então elas caem muito bem com costumes e ternos em ocasiões mais sérias.

    Porém, sem usar um casaco por cima, uma camisa é só uma camisa — uma Winchester sem nada por cima e com as mangas enroladas é um ótimo visual esportivo. Em especial, você pode deixar um pouco dos punhos aparecendo por baixo do tecido dobrado das mangas pra ficar um detalhe extra.

    Como conseguir uma?

    Em algumas lojas mais tradicionais de alfaiataria você ainda encontra estas, mas aqui vai um truque: se levar qualquer camisa sua num bom camiseiro, ele pode trocar a gola e os punhos pra você por um tecido branco. Se está com o pé atrás de experimentar com sua camisa favorita, compre uma num brechó e leve pra alterar — não sai caro.

  • Quantas roupas ter?

    Quantas roupas ter?

    Essa é uma questão importante quando você adota um estilo de vida mais minimalista. Já falei anteriormente sobre as vantagens de se ter menos, mas nunca disse nada mais concreto sobre como definir se é o bastante ou se é muito pouco. Bem, corrigindo isto agora…
    As principais considerações a se fazer quando decidindo quantas roupas ter, devem ser:

    1. Lavagem (e passadoria, quando aplicável)

    O primordial, especialmente em lugares de clima quente, ou pra quem viaja bastante. Você tem que se perguntar e responder de forma ultra sincera:

    Quantas vezes estou disposto a lavar (e talvez passar) minhas roupas por semana?

    Talvez sua rotina diária permita lavar suas roupas todos os dias, o quê te possibilita ter um guarda-roupa ultra-minimalista¹, com algo como 1 camisa, 1 camiseta, 1 calça e 1 casaco. Mas isso significa que você não pode descansar de lavar sequer um dia.

    ¹ Os Gear Posts do Tynan são sempre um bom exemplo de guarda-roupa ultra-minimalista.

    Pra muita gente (eu inclusive), lavar roupas todo dia, sem falta, é impraticável. Então algo como roupas o bastante pra te durar metade da semana ou a semana inteira costuma ser o mais realista pra maioria de nós. Mesmo numa semana corrida, você provavelmente consegue parar no sábado ou domingo pra lavar as roupas da semana.

    Um outro ponto aqui é se suas roupas devem ser passadas. Como uma professora minha disse certa vez: passadoria é uma questão muito pessoal — não é todo mundo que está disposto a fazer.
    Mas se você usar uma camisa social sem passar, vai rapidamente ver que todo mundo percebeu a falta do ferro. Dá pra diminuir este problema usando roupas que não precisam ser passadas, mas aí tem um custo social envolvido. Tudo isso deve ser considerado.

    2. Com qual frequência você pretende substituir suas roupas?

    Por mais que cuidemos, nossas roupas não duram pra sempre (ao menos a maior parte delas). Isso se aplica em dobro quando temos poucas roupas, pois o uso constante vai desgastá-las mais rápido. Sendo assim, você tem que levar em consideração com que frequência você pretende renovar seu guarda-roupa.

    Comprando roupas de qualidade você pode diminuir essa frequência, e uma das grandes vantagens de se ter menos é justamente investir em qualidade no pouco que se tem. Mas mesmo assim, conte com a probabilidade de ter que trocar suas roupas com uma frequência um pouco maior. Isso não é necessariamente ruim, porém: te dá a possibilidade de reformular seu guarda-roupa num custo menor.

    3. Quanta variedade você quer

    Mesmo que você seja mais minimalista, não significa que quer só usar preto e branco todo dia, toda semana, todo mês. Talvez você queira um pouco mais de variedade no seu guarda-roupa (não precisa entulhar também pra isso, pense em versatilidade na hora de comprar).

    Me usando como exemplo: eu tenho atualmente 8 camisas sociais. Não uso tudo isso numa semana (geralmente uso apenas 5), mas gosto de ter algumas camisas de padronagens e cores diferentes, então 8 é um número decente pra mim. Também me possibilita passar a semana inteira sossegado e só cuidar da lavagem e passadoria no fim de semana — e se eu estiver muito cansado, nem sou obrigado a passar tudo, posso deixar um pouco pro próximo.

    Ser minimalista não significa se privar. Significa manter aquilo que tem sentido.