Cognição indumentária

Eu já falei outras vezes sobre o contexto social da sua imagem: quem você quer impressionar, o quê está comunicando, sobre se conformar ou se rebelar contra o status quo, etc. Isso tudo é indispensável. Mas é essencial também considerar como as roupas afetam você mesmo.

Em 2012, dois cientistas realizaram um estudo a respeito do efeito que as roupas tem sobre quem veste. Chamado em inglês de enclothed cognition (traduzido aqui como cognição indumentária) este estudo demonstrou algo interessante…

Em três experimentos, participantes aleatoriamente selecionados foram colocados pra resolver alguns testes. O objetivo foi avaliar se o uso de um jaleco de laboratório afeta a performance — aqui medida como atenção a detalhes — dos participantes.

Em todos os três experimentos, a resposta foi um claro sim: vestir o jaleco de laboratório melhora a atenção. Conseguiram determinar também que não era só a presença do jaleco, mas o ato de vesti-lo que causa o efeito. Porém, o fato mais curioso foi o quê o segundo experimento demonstrou.

No segundo experimento, eles separaram 3 grupos:

  • 1 grupo vestindo jalecos de laboratório
  • 1 grupo vestindo jalecos de pintor
  • 1 grupo que só olhou pro jaleco de laboratório

O resultado, como já disse, foi que os de jaleco de laboratório se saíram melhor — consideravelmente melhor. Mas o truque? Os jalecos “de laboratório” e “de pintor” eram os mesmos. A única diferença foi como os cientistas identificaram para os participantes.

Este fenômeno acontece por conta de associações que absorvemos durante a vida através de nossa cultura. Os jalecos de laboratório fazem a pessoa se sentir um cientista e se comportar como tal (mais atenciosamente, mais racionalmente). Um costume faz você se sentir mais poderoso, no controle e assertivo. Etc.

Isso demonstra como suas roupas podem literalmente te transformar. Então, vista-se como quer ser, e isso vai facilitar sua transformação (indo com calma, é claro). O clichê de “vista-se pro cargo que quer, não pro quê tem” se mostra verdadeiro.

Mas lembre-se que o significado não é completamente fixo. Assim como o jaleco “de laboratório” foi melhor que o “de pintor”, você pode criar associações positivas ou negativas para suas roupas — além daquelas que já absorveu culturalmente. Então, ao invés de pensar “garçom” quando vestir um costume, pense “executivo”.

Ou “agente secreto”. O quê for mais útil, é claro.