Pegando rabeira no assunto da semana passada, sobre ser diferente…
Eu estava lendo um pouco sobre Pablo Picasso recentemente, e me deparei com essa foto dele vestindo uma gravata borboleta. Ele muitas vezes preferia usar estas, ou um ascot, ao invés de gravatas convencionais, o quê o diferenciava de outros homens da época. E se você pesquisar sobre homens conhecidos por usar gravatas borboletas, vai ter uma lista de sujeitos como ele, famosos por inovações e por nadar contra a maré, camaradas bem individualistas, que não se importavam nem um pouco de ser diferentes do resto. Verdadeiros renegados do estilo.
E faz sentido: essa gravata, fora de eventos black tie ou white tie (semi-formal e formal, respectivamente), é vista como uma escolha inusitada. Não errada — importante dizer — mas pouco comum, extravagante e corajosa até. Era a forma destes homens demonstrarem que sim, eles entendiam as regras do jogo, mas também sabiam se destacar dentro destas.
E assim como um pavão na natureza, o homem que se destaca dessa forma está correndo riscos. Mas sem riscos, sem ganho.
O mundo inteiro quer que você seja comum. Eles sempre vão empurrar para que você se pareça e se comporte como todo o resto. Cabe a você empurrar de volta.
Ramit Sethi
Li isso outro dia e me lembrei dessa dinâmica, que até já comentei aqui, mas vale lembrar e aprofundar um pouco.
Nossa imagem é um jogo entre se conformar e se diferenciar da norma. Cada um de nós tem um contexto de vida que define qual é esta norma, mas vivemos sob diferentes camadas. E existe uma pressão social forte que tenta fazer todo mundo em cada camada se vestir de forma similar. É arriscado nadar contra essa maré.
Se você vive em determinado lugar, compartilha de certas normas com os outros habitantes ali, é sua camada geográfica/cultural. Aí vem a sua camada profissional, e então sua camada social/comunitária, e por fim sua camada pessoal.
E isso é o quê mais segura nós homens na hora de mudar nossa imagem, de melhorar. O medo de sair da norma, de se destacar, de correr o risco e errar.
O mundo quer que você seja igual. Quer que você se conforme, que não se destaque. Não seja bom demais, não seja melhor que ninguém — seja mediano. Seja medíocre.
E o quê acontece quando você é igual a todo mundo? Você tem os mesmos resultados que eles. A mesma vida.
Do quê você tem mais medo: do julgamento dos outros, ou de chegar no fim da vida com arrependimentos?
Começando uma nova série aqui, visto que muitos caras me perguntam sobre como se vestir pra não parecer mais moleque. Uma rápida introdução porém…
Por quê se vestir como um adulto?
Nossa cultura tende a idolatrar a juventude¹ — e é inegável que tem muitas vantagens nesta. Porém, aparentar ser mais adulto e experiente tem uma série de vantagens também. E mais que isso, se vestir de uma maneira que parece adequada à sua idade (aparente), ou levemente mais adulto, é uma verdadeira mão na roda.
Você ganha um ar de seriedade e parece alguém que conquistou algo na vida — alguém que se sente confortável com quem é e com quem está se tornando. Mas quando você se veste de uma maneira que seria pra alguém mais novo, a impressão que passa é que estacionou na vida e que não quer crescer — alguém que não quer assumir responsabilidades. E é natural das pessoas ter uma certa aversão de gente irresponsável.
Enfim, agora que expliquei do porquê é útil se vestir como alguém da sua idade, ou levemente mais velho, vamos ao tópico de hoje…
Mochilas?
Um dos erros mais grotescos que vejo homens cometendo — e sim, este é um caso que falo que definitivamente é um erro — é o de continuar usando mochilas depois de adulto. Isso fica pior ainda quando você vê o camarada de camisa e alfaiataria… Com um raio de uma mochila nas costas. É uma contradição tão horrível que chega a dar aflição em qualquer um que tenha um pouquinho mais de noção.
Aposente com seu uniforme do colegial
Veja bem: mochilas, depois que você saiu da escola, são pra ocasiões específicas, como ir na academia, ou fazer trilha, ou alguma outra coisa esportiva.
Aí você pergunta: “Tá, mas como eu vou carregar minhas coisas então?” É bem simples na verdade…
Bolsas e pastas
E é algo simples, prático e elegante. Até mais prático que uma mochila na maior parte das vezes, pois costumam ter divisórias por dentro e bolsos mais pensados no quê um adulto vai carregar. E nisso temos dois modelos principais (com inúmeras variantes). Falemos do primeiro, a básica, prática e famosa bolsa carteiro:
Bolsa carteiro, o básico e prático
É uma simples bolsa de couro ou lona, que você pode usar transpassada ou carregar na mão. Diferente de pastas de trabalho, ela é mais flexível, tornando-a ideal pra quem não tem que carregar muitos documentos (meu caso, aliás). Recomendo modelos mais simples, com poucos detalhes e bolsos externos (e sem dúvida sem logos chamativos), mas que seja larga o bastante pra caber confortavelmente uma folha A4, caso precise carregar uma pasta dentro.
Agora, não recomendo os modelos mais quadrados, pois parecem muito com mochilas e acabam trazendo pra quem olha as mesmas conotações desta (além de serem menos práticas no geral).
Já pra quem lida com muito papel na vida profissional, uma pasta rígida de couro é o ideal:
Bem cuidada, vai durar mais que você
Se não gostar da ideia de usar couro, procure uma de sintético — mas tenha a noção de que vai ter que substituí-la eventualmente. Este tipo de pasta costuma ter múltiplas divisórias como uma sanfona por dentro, pra você categorizar sua papelada e se manter organizado. Geralmente tem um ou outro bolso externo, que serve pra carregar chaves, uma necessaire pequena e talvez o celular.
Mas eu quero usar uma mochila de vez em quando…
Ok, eu entendo: às vezes você vai acabar usando (mas espero que só em uma situação bem casual!). E aí, o quê fazer?
Pra não parecer o molecão que não soube crescer, ao menos pegue uma que tenha um aspecto diferente, mais adulto, como esta da foto abaixo.
Assim ao menos você não parece um tiozão que queria ser adolescente
Note que ela não tem logos ou detalhes gritantes, é uma peça simples e funcional. E o fato de ser de couro ajuda bastante.
Agora chega de desculpas: hora de aposentar aquela mochila que tem desde o 3º colegial e começar a se vestir de acordo com a sua idade.
¹ Apesar de parecer natural e óbvio, isso é um fenômeno bem recente na verdade: este culto da juventude começou lá pelos anos 60 do século XX. Antes disso, a juventude era vista como só mais uma etapa da vida, e não o ápice desta.
Compartilhando aqui uma história recente que ilustra bem a diferença que a imagem pode fazer, em especial nas primeiras impressões…
Estava eu numa repartição pública onde fui trabalhar. Pra quem não sabe, nestes lugares é absurdamente comum eles receberem visitas de gente vendendo comida — bonbons, queijos de Minas Gerais, saladas de frutas, etc. Como é um lugar aberto ao público, esses vendedores acabam passando e pegando amizade com o pessoal que trabalha lá, e acabam se tornando frequentes.
No dia em questão, eu estava resolvendo algumas coisas quando vi uma mini comoção na recepção do lugar. Não dava pra ver exatamente o quê era, mas tinha muita gente em volta de algo… Ou alguém.
Depois de resolver o quê tinha pra resolver, fui dar uma conferida, e tinha um camarada vestido mais ou menos como o sujeito da foto deste post, usando luvas de plástico pra pegar o produto, que estava numa embalagem bem cuidada. Prestei atenção e ele estava fazendo toda uma apresentação de um cone de brigadeiro pra uma senhora que trabalha na repartição, e eu pensei comigo “esse cara sim é um bom vendedor!.”.
Logo depois, fui tomar um café e parei pra conversar com uma amiga que trabalha lá sobre o doceiro do dia. Comentei que o cara parece um vendedor de primeira (e no melhor sentido da palavra), e ela respondeu:
Sim, ele é muito bom! A gente percebe pela roupa dele, sabe? A primeira coisa que a gente olha é isso: ele tem um aspecto limpo e profissional. Ele inspira uma confiança na gente. Eu comprei logo dois cones — e o doce é bom!
Pensei comigo, “Caramba, ela tá falando o quê todo mundo sente, mas praticamente ninguém pensa. Genial.”.
Dali a pouco ele passa e agradece a todo mundo. Eu aproveitei pra conversar com ele, e nessa descobri que o cara tinha vendido quase que todo o estoque dele só ali naquele setor!
Enfim, a moral da história, é que estamos nos vendendo o tempo todo. Mas se você é um bom vendedor ou não, vem em grande parte da confiança que você passa pros outros. E sua imagem, bem, ela é grande parte disso.
A indústria da moda faz parecer que você precisa gastar bastante dinheiro pra se vestir bem. É só olhar qualquer anúncio ou propaganda, e vai ver o logo dessa ou daquela marca associados a modelos estilosos ou celebridades. Isso gera a ilusão de quê:
Roupa de marca = bem vestido¹
Colocando desta maneira simples, dá pra enxergarmos o quão absurda é a ideia, né?
Não dizendo que ele você vai conseguir roupas muito boas a preço de banana — raramente vai, pois não existe almoço de graça — mas ao mesmo tempo, não significa que precisa comprar roupas de marca para estar bem vestido.
A indústria tem interesses econômicos em manter essa crença, e longe de mim de ficar condenando os outros por querer fazer dinheiro. Mas quero propor aqui uma maneira mais útil de pensar em marcas. Elas devem ser pra você só um indicador de 2 coisas:
Confiança: você sabe que esta marca costuma fazer roupas bem acabadas e com material de uma qualidade que te agrada.
Modelagem: você tem uma noção de como a calça, camisa ou casaco desta marca fica no seu corpo.